Ao contrário dos boys love, o yuri – também conhecido como girls love – é voltado para as histórias com relacionamentos entre mulheres e é extremamente mais novo do que o BL, que surgiu na década de 1970 no Japão. Ainda no início do yuri, muitas histórias eram lançadas em revistas shojo ou josei, e ainda hoje ele pode fazer parte de revistas de qualquer demografia. 

Apenas nos últimos 10/15 anos que o yuri recebeu uma atenção mais específica, e ganhou uma revista própria. A Yurihime é uma das únicas revistas de sucesso, lançando os mangás que hoje são extremamente conhecidos, como Citrus, Yagate Kimi ni Naru, Adachi to Shimamura, Asagao to Kase-san e 2DK, G Pen, Alarm clock.

Capa da revista Yurihime de janeiro de 2020

Além disso, muitos mangás digitais começaram a surgir no Pixiv e em outras plataformas dedicados ao yuri, tudo isso no Japão. Antes disso, o yuri era extremamente voltado para o público hétero feminino, e as histórias giravam em torno de romances que nem sempre representavam e abarcavam mulheres lésbicas. 

Diversas vezes as histórias possuíam diálogos eufemistas, para evitar os termos “homossexual”, “lésbica” e até mesmo “bissexual”. O casal feminino existia, mas as personagens faziam questão de dizer que não gostavam de mulheres, apenas eram apaixonadas por uma única mulher (?).

Há um texto mais explicativo sobre o nascimento do yuri e as gerações que moldaram o que o yuri é hoje.

Apesar de ainda existir histórias desse tipo hoje em dia, muito desse ambiente heteronormativo foi ficando de lado e aumentou o espaço para criações mais representativas e autoras verdadeiramente inteiradas do mundo LGBT. Hoje, o yuri tem um público feminino grande, ainda com a presença de mulheres héteros, mas também mais convidativo às mulheres trans, lésbicas e bis. 

E é claro, é sempre bom lembrar que os mangás, em geral, mesmo possuindo focos de público, podem ser lidos por qualquer um. Desde que não seja menor de idade lendo cenas explícitas de sexo, qualquer outra demografia pode ser lida. Se você é homem, pode ler yuri, se você é adolescente, pode ler yuri, se você tem 40 anos, pode ler yuri. Não há barreiras, ok?

Adachi to Shimamura é uma light novel de sucesso no Japão, beirando aos 10 volumes e que teve adaptação para anime em 2020

E os animes?

É importante fazer uma breve introdução do crescimento do mercado de quadrinhos, pois é com o sucesso dessas obras que as produtoras procuram lançar e criar as versões animadas desses títulos. É o que aconteceu com Citrus, Netsuzou Trap, Happy Sugar Life, Kase-san e Yagate Kimi ni Naru

Animes mais antigos foram lançados no início dos anos 2000, como Maria-sama ga Miteru, que podemos considerar um grande sucesso, com 2 temporadas de 13 episódios, mais uma sequência de OVAs com 5 epis, que continuam a história da 2º temp, e enfim uma 4ª temporada. 

Maria-sama certamente é um dos yuri clássicos e que foi extremamente importante para o avanço das obras yuri

Além dele, não podem passar em branco os clássicos Kannazuki No Miko e Strawberry Panic, respectivamente de 2004 e 2006, que são ícones yuri ainda nos dias de hoje.

Para vocês verem como essa primeira geração dos yuri foi extremamente voltada para mulheres héteros, as personagens estudavam em colégios femininos, e a única forma de se relacionarem romanticamente era beijar e amar mulheres. A ideia era explorar essa sexualidade nos 3 anos do colegial, para depois encontrarem um homem ideal para casar. 

Ainda assim, importante dizer que essas obras de alguma forma mostravam que os casais principais viveriam para sempre, nos moldes de um romance sáfico, mas sem essas nomenclaturas por causa dessa onda “eufemista” na época.

Kannazuki no Miko

Nessa leva toda, Kannazuki no Miko acaba sendo um marco, levando a história a outros rumos inesperados. O primeiro episódio parece cair na mesma da maioria dos yuri da época. Uma colegial pouco conhecida (Himeko), que admira a aluna mais famosa do colégio, que é linda, impecável, e que todos querem a atenção (Chikane)

Porém isso tudo parece mais uma distração para o que a história realmente quer contar. O interessante do anime é não ler sinopses e nem procurar muita coisa da história, para você ser surpreendido. Os primeiros minutos você acha que vai ser mais um romance escolar, mas na verdade ele não é nada disso. 

A história tem um drama bem trágico, então a trilha sonora, os olhares e a dublagem faz tudo parecer ainda mais sofrido, então se acostumem, pois isso também tem a ver com a geração. Porém, para começar a entender o yuri é legal ver ao menos um anime clássico, e Kannazuki no Miko é a melhor opção entre todas que existem.

Sasameki Koto

O mangá, publicado em 2007, teve uma adaptação para anime, com 13 episódios em 2009. Entre todos da geração, já possui alguns artifícios mais atuais, evitando alguns estereótipos antigos, porém ainda caindo para alguns deslizes em relação ao que sabemos sobre orientação sexual e relacionamentos de pessoas do mesmo sexo. 

Ainda assim é uma ótima pedida para quem quer algo mais leve e não desgracento, como muitos yuri eram. Mas fiquem atentos, o anime não adapta toda a história do mangá, e possui apenas 13 episódios. Assim como muitos animes, Sasameki Koto foca em um clube do colégio, mas o do anime é voltado para mulheres que amam outras mulheres. 

Kazama abraçando Ushio

A protagonista, Sumika, é uma colegial atlética, sarcástica e bem distinta das outras garotas, porém ela é apaixonada pela sua melhor amiga, Ushio Kazama. Ushio, entretanto, ama garotas fofas, que exalam feminilidade, o contrário da Sumika.

Sasameki Koto reverte toda essa ideia do que entendemos por padrão feminino, o que torna tudo muito divertido de ver. O mangá possui 9 volumes, portanto o anime adaptou aí até metade disso ao menos. 

Aoi Hana

Também da mesma leva de Sasameki Koto, Aoi Hana é de 2009, com artifícios narrativos diferentes do antes padronizado yuri de colégio católico feminino, com mulheres apenas se relacionando com mulheres, mas todas negando veementemente que eram lésbicas, ou ao menos bis. 

Aoi Hana quebra bastante esse estigma, fazendo também uma história de duas garotas que entram em um colégio feminino. No entanto, as ações, diálogos e a ambientação da história são muito mais coerentes com a realidade japonesa do que os animes mais antigos. O anime também é uma adaptação do mangá, e possui 11 episódios. 

O mangá, lançado em 2004, é de autoria de Takako Shimura, e possui 8 volumes. Para vocês entenderem como o yuri como demografia é algo extremamente novo, Aoi Hana, apesar de ser um yuri, foi publicado na revista Manga Erotics F, um tipo de revista com conteúdo “mature”, ou seja, tinha hentai, tinha BL, histórias mais densas, com grande teor de drama psicológico e pesado. 

Mas Aoi Hana em si não tem nada explícito, apesar de ter uma narrativa mais psicológica e densa. Lembrando os shojo/josei mais reflexivos, como Nana, Sunadokei e Honey&Clover, Aoi Hana aborda a história de duas grandes amigas que eram grudadas até o início do fundamental. Fumi era a chorona, e Akira era a que protegia Fumi na infância. Porém a família de Fumi precisou mudar de cidade, e assim as duas perderam contato por alguns anos.

No colegial, Fumi consegue passar na escola feminina super disputada da cidade da sua infância, e acaba voltando para onde Akira vive. Coincidentemente, Akira também passou na Academia Feminina Fujigatani. O relacionamento delas agora será diferente, mas ainda com muitas lembranças e histórias por vir. 

Além disso, apesar da história se passar em uma escola feminina, há clareza na hora de falar de garotas héteros, que gostam de homens. E aí tem a Fumi, que também guarda esses sentimentos pela sua melhor amiga e tem dúvidas se pode ou não falar sobre quem ama e que tipo de pessoa que é. É tudo bem mais sensível e feito com responsabilidade. 

Yagate Kimi ni Naru

Um dos melhores mangás yuri já lançados na humanidade, Yagate Kimi ni Naru teve sua adaptação de anime no ano de 2018, lançado no Hidive, mas possuindo uma grande procura no Brasil também. O anime não adapta todo o mangá, possuindo 13 episódios.

O mangá foi publicado Comic Dengeki Daioh, uma revista shonen diferentona, que depois do sucesso de YagaKimi, tem dado mais chances para roteiros yuri. A obra é finalizada em 8 volume. Eu sou suspeita para falar, porém o mangá é uma das melhores leituras que já fiz. 

Nakatani Nio, a autora, é bastante ativa na comunidade e realmente recebeu muitas críticas positivas com Yagate, o que traz muita coisa boa para todo o cenário yuri no Japão. A história é sobre uma garota do 1º colegial, Yuu, que recebe uma declaração de amor na graduação do ginasial, mas não sabe como responder a isso, pois não entende o amor, apesar de saber seu conceito.

Após entrar no Grêmio Estudantil do colégio, ela conhece Touko, uma garota bem mais madura, presidente do Grêmio e do 3º ano. Nela, Yuu procura por conselhos, pois descobriu que Touko tem experiência em rejeitar todos que já se declararam para ela. Yuu consegue enfim rejeitar o garoto do ginasial, após alguns meses, mas se vê entrando em uma outra “enrascada”. Touko acaba se apaixonando por Yuu e pela primeira vez em sua vida, se declara para alguém. 

Seguindo a linha de Aoi Hana no teor mais sentimental e sensível, Yagate no entanto criou uma fórmula própria. Os quadros gráficos do mangá são espetaculares, em que as imagens parecem falar com você, mesmo sem balão de diálogo. Há muita reflexão, há relacionamentos confusos, e ao mesmo tempo saudáveis, como a adolescência tem que ser. 

Infelizmente o anime não pode ser visto oficialmente no Brasil, mas ainda é um dos melhores animes yuri já feitos

É simplesmente uma obra-prima do yuri, que será publicado no Brasil na sua versão em mangá (a obra primária, já que o anime é apenas adaptação) pela editora Panini neste ano de 2021.

Asagao to Kase-san

Saindo dos animes de temporada e entrando em OVAs, Asagao to Kase-san é um yuri que foi lançado em blu-ray também em 2018, com nome de Kase-san and Morning Glories. Para quem não sabe o que é OVA e a diferença para um anime ou filme de cinema, eu fiz um conteúdo sobre isso, explicando certinho o que é cada um

Apesar de não fazer o sucesso que um anime faria, o DVD foi bem recebido e será lançado nos EUA também, oficialmente. É um yuri fofo, simplesmente fofo, sem nenhuma tristeza, desgraça, emoção que faz a gente chorar, nada disso, é só felicidade, amor e alegria. Exatamente por isso que considero Asagao to Kase-san a melhor recomendação para quem quer começar. 

É leve, fofo, lindo, e fofo de novo. Yamada é uma colegial que ama cuidar do jardim da escola, e acaba conhecendo Kase-san, uma esportista do clube de atletismo, totalmente tomboy (garotas com aquele charme “masculinizado”, porém ainda um mulherão). Kase-san já se interessava por Yamada (e não apenas como amiga) e queria conhecer mais sobre ela.

E naturalmente, assim, como um amor iniciado na adolescência, as duas ficam juntas. É isto.

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