Maeda Jun é escritor japonês e cofundador da empresa Key Visual Novel, empresa de jogos de visual novel

Maeda Jun, escritor e compositor, trabalha com visual novel e animes
Maeda Jun

Primeiramente, explicando o que é uma visual novel, são jogos focados no enredo. O jogador acompanha uma história por meio de imagens, músicas e texto. Muitas visual novel, em certos pontos, o jogador deve decidir em que caminho o protagonista deve seguir, avançando o jogo.

A empresa Key Visual Novel se formou em 1998 e seu primeiro jogo lançado foi Kanon em 1999. Maeda além de cofundador, ele escreveu e desenvolveu animes como Angel Beats e Charlotte e também escreveu visual-novels como Air, Kanon, Clannad e Little Busters, que logo depois, viraram animes em que Maeda Jun se envolveu também com a staff. 

Conhecido por produzir obras emotivas, Maeda Jun ainda compôs músicas, tanto para aberturas, encerramentos e trilhas para os animes e visual-novels. A abertura mais conhecida e uma das favoritas que ele compôs foi a de Angel Beats, My Soul Your Beats, cantada por Lia.

Abertura Angel Beats (2010)

Os animes de Maeda Jun são marcados por conter cenas emocionantes, tristes e sentimentais. É interessante citar que, as vezes, saem pesquisas no Japão sobre animes, e quando vão perguntar sobre os animes mais tristes para os fãs, os fãs japoneses elegem algumas obras de Maeda Jun, como Clannad e Angel Beats, como umas das obras mais tristes.

Assim sendo, desenvolvendo seus animes e participando da criação da visual-novel da Key, podemos encontrar semelhanças nos animes e ver como Maeda consegue criar seus animes tão emocionantes. 

Jogo visual novel little busters, na imagem, kyousuke
Kyousuke (visual novel Little Busters), na legenda: “O nome do time será… Little Busters!”

Um dos fatores que podemos analisar é como Maeda trabalha na curva dramática em suas obras, ou seja, como ele desenvolve a história para o crescimento do seu personagem. Assim, é revelado ao espectador sobre o personagem, que, nas obras de Maeda, fazem o espectador se emocionar.

Entretanto, esse texto possui spoilers! Então, que tal ir assistir os animes do Maeda Jun e da Key e depois aparecer aqui?

Como funciona uma curva dramática nas obras audiovisuais?

Antes de mais nada, na área de roteiros, na hora da construção de um, os escritores seguem uma curva dramática para sua história. Ou seja, essa obra audiovisual é coordenado por uma curva dramática. Essa curva é o crescimento da situação dramática até o cume, mas ela começa a descer, até voltar sua normalidade.

O personagem está vivendo sua vida normalmente e seja por alguma coisa que tire ele de sua rotina, que seja ele descobrindo alguma coisa, conhecendo uma nova pessoa ou até que mude radicalmente a vida dele, a curva dramática começa a crescer.

Curva dramática de uma história, mostrada por um gráfico, ela tem seu inicio e começa a crescer assim que se tem uma complicação na história. O ponto alto do gráfico é quando ela atinge o clímax. A curva desce quando se tem a resolução da história.
Gráfico de como funciona uma curva dramática nas histórias (créditos: Academia Internacional de Cinema)

Dividindo esse gráfico em três pontos: a estruturação, confronto e resolução. Então, a curva pode continuar crescendo (como na imagem) ou pode voltar a descer, tentando se estabilizar até aparecer um outro evento novo ou uma nova crise para o protagonista, fazendo a curva crescer novamente.

Quando a curva dramática cresce, acaba causando maior tensão. Assim, o maior ponto do gráfico é o clímax, pois é a resolução final em que o personagem irá passar.

Dessa forma, voltando aos animes de Maeda, podemos classificar o gênero de seus animes como tragicomédia, uma obra dramática que contém ao mesmo tempo elementos da tragédia e da comédia. Assim, conseguimos analisar suas obras seguindo a ideia da curva dramática.

1. Equilíbrio

Essa primeira etapa da história, o protagonista está em seu mundo comum, ou mundo do equilíbrio. O protagonista vive sua rotina normalmente. Mas logo, então, o espectador é puxado para a história. Acontece alguma coisa de diferente que faz o personagem sair da rotina de seu dia a dia para fazer algo de diferente.  

Encontro de Nagisa e Tomoya, atrás uma árvore de sakuras
Primeiro encontro de Nagisa e Tomoya (Clannad)

Do mesmo modo, pode ser algo tão simples, como em Clannad, o encontro de Nagisa e Tomoya, onde toda a história do anime começa. Ou quando Kyousuke, em Little Busters decide criar um clube de baseball para se aventurarem nos últimos dias do ensino médio. Ou até uns momentos de uma tela preta e Otonashi acordando em um mundo completamente novo e desconhecido em Angel Beats.

Os 5 personagens principais em Little Busters, da esquerda, kengo, rin, kyousuke, riki e masato
5 personagens principais de Little Busters, da esquerda, Kengo, Rin, Kyousuke, Riki e Masato.

Portanto, esse é o primeiro ponto de começo do nosso gráfico de análises dos animes do Maeda, um ponto de partida para seu personagem. O estilo de Maeda é intencional ou, de outra forma, é formulado para estabelecer seu mundo e personagens.

2. Normalização

O segundo ponto é o protagonista saindo dessa zona de equilíbrio e entra em uma nova localização, seja ela necessariamente física, o personagem realmente se mudando, como Yuuichi em Kanon, se mudando de cidade. Ou pode ser trabalhado em algo até mental

Um ponto importante de citar que, Maeda trabalha com o gênero slice of life nesses animes, que são, experiências quotidianas do personagem. Essa fase, mesmo leve no enredo, acaba prendendo o espectador para ele conhecer os personagens e suas experiências.

personagem principal yuuichi em kanon 2006
Yuuichi (Kanon 2006)

Portanto, Maeda introduz , além do protagonista, os outros personagens de seu anime em que eles apresentam algum problema pessoal. Mas faz o espectador gostar mais de seus personagens. Assim, conhecendo o personagem, faz estruturar ainda mais ele.

Maeda ainda usa a ideia de que, um personagem se mostra, primeiramente de um jeito para o espectador, mas na verdade, em uma ocasião criada pelo autor, o personagem se apresenta de outro jeito. Um exemplo clássico é a personagem Shiina. Um exemplo que seja bobo, mas que ela se mostrar durona, mas adora coisas fofas, e ela deixa claro no segundo episódio, quando vai salvar um cachorro de pelúcia.

Shiina, personagem de Angel Beats, com uma feição triste, encarando para seus cachorros de pelucia
Shiina (Angel Beats)

Assim, Angel Beats leva essa ideia mais para a comédia. No primeiro episódio, onde Yurippe apresenta como o mundo vida pós morte funciona.  E é apresentado os personagens de uma forma mais rasa, mas no segundo episódio, onde se tem umas das partes mais cômicas do anime, em que os personagens vão “morrendo” em momentos bestas. Esses momentos, só revelam quem eles realmente são. 

Em um vídeo, do canal lerdyvision, “The Key Effect: Maeda’s Monomyth” (Efeito Key: Monomito de Maeda), ele comenta que essa parte, em que os personagens estão sendo apresentados, é um jogo de contrastes. “É um choque de personalidades fortementes definidos. Como estupidez e inteligência, pretensão e realidade, liberdade e obrigação”. Assim, esse estilo do Maeda é baseado em todas suas obras.

Kyousuke de Little Busters em um fundo preto
Kyousuke (Little Busters)

Vale ressaltar, sobre os protagonistas, como alguns se parecem. Yurippe (Angel Beats) e Tomori (Charlotte) tem o mesmo estilo de liderança parecido com Kyousuke (Little Busters, mesmo não sendo o personagem principal da obra). Já em Clannad, Air e Kanon, Tomoya, Yukito e Yuuichi também seguem uma mesma proposta de construção de personagem. Riki em Little Busters já segue um ponto mais diferente, sendo mais ingênuo. 

3. Primeira Crise

A primeira crise na curva dramática nos animes do Maeda Jun. Voltando com a ideia de jogo de contrastes, temos um anime slice of life de comédia, mas logo trazendo esse potencial para a tragédia que está por vir. 

Assim, aquele aviso em que todos os animes do Maeda Jun aparece: “Aviso aos navegantes, isso não é um anime bobinho slice of life!”, são obras que trabalham com tragédia, melodrama e que vão sim, fazer você se emocionar.

Na esquerda, Tomori mais nova, e do lado dela, seu irmão, em Charlotte
Tomori e seu irmão (Charlotte)

E ainda mais, agora que o espectador conhece e cria expectativas sobre o personagem, após essa primeira crise, tudo é jogado para o alto, te mostrando, na verdade, uma revelação em que os personagens não são exatamente como eles se mostram ser. Mesmo uns sendo bobinhos e outros sérios, todos ali têm seus problemas. Problemas dramáticos com a família, com alguma doença, podendo atender até o lado sobrenatural.

Seja do protagonista ou de outros personagens ao redor dele, são momentos em que o personagem se revela, trazendo uma história triste para o espectador se emocionar. 

Como em Angel Beats, quando Yurippe conta sua história sobre o assalto e a morte do seus irmãos para Otonashi. Ou Tomori, em Charlotte, quando leva Yuu para ver o irmão dela. Ou até Nagisa tendo um colapso e desmaiando em Clannad, mostrando que ela está doente.

Yurippe de Angel Beats encarando seus três irmãos mais novos
Yurippe e seus irmãos mais novos (Angel Beats)

Essas cenas vão e vêm rapidamente, mas prenunciam eventos significativos no final da série. Em animes como Kanon, Little Busters e Clannad, esse tipo de mini-arco, aparece para cada personagem na obra, dessa forma, se tornando uma série ainda mais potente. 

4. Nova Normalização

As coisas voltam ao normal para os personagens depois da primeira crise. Assim, voltando para o slice of life de comédia dos personagens. Mas com a garantia que o drama irá voltar.

Os animes mais curtos, como Angel Beats e Charlotte, esse tempo pode ser curto, apenas causando uma pequena tensão entre os personagens. 

Por outro lado, em animes mais longos, que citei acima, Kanon, Little Busters e Clannad, esses momentos duram o suficiente para causar essa pausa que cause ao espectador que ele esqueça do incidente e que possa acontecer outro. Essa pausa faz com que os laços dos personagens só aumentem e que os arcos dos personagens sejam resolvidos.

Nesse meio tempo, existe pequenas crises dos personagens. Como em Little Busters, onde Komari revela a morte de seu irmão. Ou em Clannad, da morte dos pais de Kotomi. Ou a revelação dos poderes de Mai em Kanon.

Mai segurando uma espada, anime Kannon 2006
Mai Kawasumi (Kannon 2006)

Embora existam essas pequenas crises e resoluções desses mini-arcos, uma vez resolvidos, o enredo abrange, mas logo, ele começa a mudar drasticamente.

5. Clímax: A Grande Crise

No clímax do anime, Maeda trás a crise mais significante. Ele marca o ponto de virada da narrativa e muda drasticamente o universo do anime.

Vale lembrar que, ao longo do anime, o personagem é construído para sofrer essa grande crise. Como em Little Busters, as paralisias do sono de Riki que aparecem uma vez ou outra, mas se tornam constantes durante o anime para assim revelar o que realmente elas significam.

Ayu, protagonista do anime Kannon 2006
Ayu (Kannon 2006)

Em Kanon, que Yuuichi descobre que Ayu na verdade está em um coma no hospital após cair de uma árvore 7 anos atrás. Ou mesmo em Clannad, Nagisa se mostra doente mas tudo isso vai piorando e é um dos fatores do clímax de Clannad, a morte de Nagisa.

Nagisa deitada, morrendo em Clannad
Morte de Nagisa (Clannad After Story, segunda temporada do anime)

Voltando para o drama, os animes de Maeda Jun e da Key Animation, são feitos para o espectador chorar. Esse momento do clímax é tão dramático e sofrido, que muitos não conseguem segurar as lágrimas. 

Mas a emoção do espectador só mostra a recompensa que é a construção dos personagens anteriormente. Se tem essa mudança de um tom mais comédia para o drama, e a apresentação de eventos trágicos que consegue ser fundamental para o anime.

6. Desfecho: Restabelecer

Por mais que as obras de Maeda são trágicas, o final, por mais inesperado, é um final feliz. Maeda trabalha com a ideia de resetar. Geralmente, tudo volta ao normal. 

Maeda trabalha tanto na resolução do conflito ou o geralmente, em viagens no tempo. Em Clannad, a volta no tempo, em que Nagisa consegue ter sua filha e fica tudo bem com ela. Ou em Little Busters, em que Rin e Riki conseguem salvar todos seus amigos do ônibus que bateu e pegou fogo, diferente do que aconteceu anteriormente.

Riki and Rin se entreolhando, Little Busters
Riki and Rin (Little Busters)

Ou até citar Angel Beats, que depois que Kanade some do mundo vida pós morte, aparece uma cena no final do anime que deixa a entender que Otonashi e Kanade se encontraram no mundo real.

Em suma, Maeda constrói seus personagens apresentando eles em cenas de comédia e slice of life, em que te faz acreditar na verossimilhança do personagem. Mas depois, ele cria um  ponto de conflito que revela quem realmente é seu personagem. O espectador, que já gostava do personagem, se surpreende e se emociona nessas cenas de crise dos personagens até sua resolução.

Kanade atrás e Otonashi em Angel Beats
Kanade e Otonashi no mundo real (Angel Beats)

Toda a dor e sofrimento do personagem é revertida e chega ao fim. Maeda conseguiu criar uma história trágica e depois, transformá-la em algo ainda melhor. Uma verdadeira comédia trágica.

Assim, Maeda Jun, com sua fórmula, conseguiu seu feito em suas visual-novels e em seus animes. Por trazer histórias que fazem qualquer pessoa se emocionar. 

Ushio, filha de Nagisa e Tomoya, abraçando o pai. Clannad after story
Ushio (filha de Nagisa e Tomoya) abraçando o pai em Clannad After Story

Maeda Jun, atualmente, sofre de uma doença no coração em que causa um aumento e enfraquecimento do ventrículo esquerdo. Em 2016, ele precisou de um transplante de coração. Entretanto, mais tarde, ele assegurou que estava bem.

Vale ressaltar que as algumas visual novels da Key estão na plataforma de jogos da steam, como Clannad e Little Busters. Recentemente Maeda participou da criação da visual novel Summer Pockets, o novo jogo da Key Visual Novel. Falam que Maeda conseguiu fazer até a staff chorar com o jogo e rola boatos que o jogo poderá ganhar um anime.

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