Muitas vezes o ponto alto da história que está sendo narrada são seus personagens, ainda mais os protagonistas. É importante que o autor estabeleça muito bem na história as motivações dos personagens de uma forma que criamos empatia por ele. Mas, e quando um personagem é um anti-herói?

Anti-heróis muitas vezes são desprezíveis nas histórias, então, como acabamos criando empatia por eles? Como gostamos de um personagem que mata os outros com um caderno ou outro que quer fazer vingança matando outros personagens?

Posso garantir que você não gosta desses anti-heróis porque você se identifica com eles, não que você se identifica com tal personagem porque você também quer praticar uma vingança. Enfim, desde que os personagens acabam sendo pessoas fascinantes, em um mundo de altos riscos fascinantes, vai acabar despertando o nosso interesse.

Portanto, por meio deste texto, quero analisar com é a construção dos anti-heróis em animes, que, de algum modo, nos fascinam com suas histórias. 

Antes de tudo, vamos explicar o termo “anti-herói”

Por mais que o termo seja bastante conhecido, ainda acontecem confusões no momento de defini-lo. Então, para deixar claro, o anti-herói não é o vilão ou o antagonista. O anti-herói é na verdade o personagem principal da história.

Muitas vezes em histórias, ainda mais em animações japonesas, o anti-herói desafia abertamente a sociedade e tenta lutar contra as mentiras e táticas que oprimem a população. Primeiramente, ele pode ser até aquele personagem não-questionador da história, ou seja, alienado da sociedade, onde aceita as normas e regras e não se opõem.

Então, o anti-herói começa a se conformar, ele luta para isso acontecer e pode até encontrar outras pessoas que reconheçam algum valor nessas lutas. Ele, às vezes, tem até uma figura de autoridade ao compartilhar as suas críticas, como se fosse então o “herói do movimento”.

O interessante que para nós, espectadores, para esse tipo de personagem, precisamos se importar com a história para querermos seguir esse personagem. Então, muitas narrativas já nos trazem a proposta da história no começo da história, para nos prender. Desta forma, o protagonista precisa enfrentar um grande problema para o público se prender com a história.   

Os anti-heróis dos animes

Caso um: Os anti-heróis “bonzinhos”

Monkey D. Luffy: O anti-herói de One Piece, mesmo não parecendo ser

Um fator a se analisar em animações japonesas é que, muitas vezes, um anti-herói é apresentado de um “jeito bom”, ele pode ser aquele personagem com bastante carisma, que mesmo desafiando regras e o poder acima dele, ele acaba fazendo o “correto” para a história.

Pegando a ideia da criação de empatia do público ao personagem, Michael Hauge, autor e consultor americano de histórias, ele cita em seu livro Writing Screenplays that sell três métodos tradicionais: 

Primeiro, precisamos fazer o público se simpatizar com o personagem. Segundo, os colocando em grande perigo, fazendo com que nós se preocupamos com ele, e por último, os fazendo admiráveis, ou seja, são personagens sem egoísmos e de bom coração, generoso e solícito aos outros. 

O ponto que eu quero chegar é que, muitos anti-heróis que conhecemos em animações japonesas tem esse perfil. Lendo esses primeiros parágrafos, muitos já devem ter imaginado o personagem Luffy de One Piece. Gosto muito de falar dele porque ele é o típico protagonista de anime shounen que deu certo.

É muito fácil você simpatizar por Luffy, você acaba se preocupando com ele a cada arco que passa quando ele acaba se envolvendo em problemas e lutas. Acho legal de citar que tem cenas tensas, famosas por fazer o público chorar, e acabamos se emocionando pela reação de Luffy. Além de tudo isso, Luffy é admirável, de bom coração, generoso, e quando precisa, da ajuda a outros personagens.

Entretanto, Luffy é um anti-herói. Ele acaba sendo um pois simplesmente é um pirata, e assim o torna contra a Marinha e o Governo Mundial, sendo então, contra as leis do governo de seu mundo. Isso, no começo do anime, parece bem básico, mas aos poucos, o universo é bem construído para mostrar os questionamentos de como a Marinha e o Governo Mundial atuam.

Hauge ainda acrescenta que você pode aparentar o personagem ser agradável quando ele interage com seu círculo de amigos, já que nesse momento, ele não vai agir com egoísmo e nem ser desagradável. Então, seguindo essa lógica, o bando de chapéu de palha só fortalece a imagem de bom moço que Luffy tem mesmo sendo um anti-herói. 

Luffy contra os 3 almirantes em Marineford

Tem até momentos que o autor tenta fortalecer a ideia que Luffy é um anti-herói, por mais generoso que seja. Esses momentos, é quando Luffy fala que não quer ser visto como um herói porque ele não quer dividir carne e entre outros pontos. 

Entretanto, por mais que temos um anti-herói com uma personalidade boa, não é algo ruim, é apenas uma técnica para a criação da história. Assim, mesmo Luffy sendo contra todo o sistema de governo do seu mundo, o tornando um anti-herói, é mais fácil sentir empatia por ele, pois acabamos enxergando ele como um herói daquele seu mundo. 

Caso dois: Os anti-heróis desprezíveis

Lelouch Lamperouge: o anti-herói de Code Geass

Talvez seja muito mais comum encontrar em animes personagens que tendem a ser mais simpáticos mesmo sendo anti-heróis, mas mesmo assim, não podemos deixar de citar os anti-heróis que caracterizam por ser desprezíveis. 

Podemos citar o personagem Lelouch de Code Geass. Diferente de Luffy, Lelouch já é mais arrogante, altamente inteligente e sofisticado. Ele ganha “o poder do rei”, Geass, durante o anime para assim conseguir realizar seus objetivos de derrotar Britannia.

Lelouch é príncipe exilado do Império de Britannia, onde, esse mesmo império tem planos para dominar várias regiões para a ampliação de seu território, incluindo o Japão. Ele acaba se juntando a rebelião para lutar contra o império. Ele deixa claro no anime que possui dois objetivos, onde é construir um mundo onde sua irmã possa viver bem e feliz, e o outro, é vingar a morte de sua mãe. Desta forma, Lelouch está disposto a fazer de tudo para alcançar seus objetivos. 

O personagem poderia ser até considerado um herói, que busca uma revolução, mas na verdade, ele está disposto a tudo para acabar com o império de Britannia. Então, Lelouch faz coisas absurdas, como fazer promessas e não cumprir-lás, mente para seus seguidores e passa por cima da vida das pessoas. 

Lelouch é um protagonista totalmente desprezível. Mas mesmo assim, muitos fãs gostam dele. Sendo o primeiro personagem colocado no TOP de personagens favoritos do site do My Anime List. E também, em três anos seguidos, ele foi escolhido como o personagem masculino mais popular pela revista Anime Grand Pix. Afinal, mesmo com essas atitudes desprezíveis, o que faz ele se tornar um personagem querido pelo público?

Mesmo Lelouch tendo muitos defeitos, demônios e batalhas internas, tanto morais e éticas, ele acaba tendo características atrativas. O público vai acompanhando a queda desse personagem com fascínio. Quanto mais o personagem for conflitante e contraditório, mais será atraído pelo espectador. O personagem dessa forma precisa ter uma combinação de qualidades, impulsos e sentimentos.

O anti-herói se torna muito atrativo ao público quando se tem essas características bem construídas. Tendo um personagem defeituoso e imperfeito, movido por impulsos e ser egoísta, mas que no fundo, talvez não possua más intenções. Então, como Lelouch, o anti-herói, vai buscar seus objetivos sem se preocupar com distrações externas.

Eu recomendo ler o texto da Buru sobre Protagonistas dos animes que são vilões. Onde ela cita alguns personagens que são anti-heróis de suas histórias. 

Não é vilão, mas também não é herói

Avilio Bruno de 91 Days: Busca vingança pela morte de sua família

Personagens anti-heróis que tem uma carisma e são generosos, são mais fáceis de ser confundidos, onde pensamos que talvez eles não sejam os tais anti-heróis. Precisamos analisar a história e a situação para então entendermos esses anti-heróis. Também não podemos confundir anti-heróis como antagonistas, já que o anti-herói é na verdade o personagem principal da história.

Esse personagem, para ser o anti-herói, luta contra as opressões que atingem a população. Ele pode ser um personagem mais generoso, como Luffy, ou pode ser aquele personagem que não liga para seu redor, fazendo de tudo de uma forma até desprezível para realizar seus objetivos, como Lelouch

Eu dei exemplos de dois personagens que lutam contra governos de seus mundos, mas não necessariamente um anti-herói precisa fazer isso. Já sendo construído para fazer algo contra as leis impostas da sociedade já pode ser considerado um anti-herói, não importando como ele é com base a sua personalidade. 

Gintoki de Gintama: No primeiro momento possível, está contra os oficiais do governo e os Amantos (alienígenas que comandam a Terra)

Portanto, em animações japonesas, podemos encontrar anti-heróis mais parecidos como o Luffy, como por exemplo Gintoki de Gintama, mesmo de que uma forma cômica, que é um samurai em uma Era no Japão que era proibido ser um samurai, mas ele de certa forma é um personagem mais solícito. Mas nada impede de ter anti-heróis desprezíveis como Lelouch, onde podemos citar Avilio Bruno de 91 Days, onde ele faz de tudo para vingar a morte de sua família. 

Se você gostou desse texto, recomendo ler o texto em que falo sobre como os protagonistas de animações japonesas que não tem poderes causam empatia no público, onde também falo sobre um pouco de como a empatia é importante para o público gostar do personagem. 

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