Vivenciamos vários setores mundiais sofrendo grandes impactos por conta da pandemia do novo coronavírus (COVID-19) e a indústria de animes e mangás não está diferente. Em busca de diminuir a transmissão da doença, o Japão começa a adotar medidas para o isolamento social, parando os vários setores de produção de animes e mangás.
Portanto, com o isolamento social e o estado de emergência declarado pelo primeiro-ministro japonês, começamos a acompanhar estúdios de animações fechados, distribuidoras com seus trabalhos parados e também lojas de mangás fechadas por conta das ações do governo. Diante destas medidas, os mangás acabam entrando em uma pausa para lançamento. Já os animes, muitos estão tendo suas transmissões pausadas e outros estão com seus lançamentos adiados.
E podendo analisar, não só o mercado de mangás japonês é afetado. As editoras de mangás aqui no Brasil começam a adiar suas vendas de volumes e muitos trabalhos podem começar a ser paralisados por conta da falta de materiais que precisam ser enviados para a produção de novas edições de mangás em lançamentos.
Assim, a ideia deste texto é analisar os principais impactos do novo coronavírus na indústria de animes e mangás, tanto no Japão, como também no Brasil. Onde, pontualmente, precisamos ficar preparados para as futuras notícias que podemos encontrar daqui uns dias sobre adiamentos e cancelamentos sobre as animações japonesas.
O coronavírus no Japão
O Japão foi um dos primeiros países a confirmar casos do novo coronavírus em seu país depois de alguns dias da China emitir um alerta sobre a doença. Por conta então da pandemia, escolas foram fechadas, eventos esportivos cancelados, como a Olimpíada de 2020, que foi adiada para o ano que vem.
Só que nem tudo parou como outros países. No começo da pandemia, a governadora de Tóquio começava pedir para que os cidadãos da capital só saíssem de suas casas para o essencial, mas ainda se tinha mesmo muitas pessoas na rua. Entretanto, o Japão se mostrava muito eficiente ao combate do novo coronavírus. O país sempre mostrou adotar medidas sanitárias comuns, como o uso de máscara. E também, o país tem conseguido testar pessoas em busca do vírus, identificar estes grupos de contágio e assim isolá-los.
Entretanto, mesmo com a procura de se testar e praticar o isolamento social do povo japonês, ainda teve um aumento no número de casos coronavírus, desta forma, as associações médicas do Japão emitiram um alerta no dia 18 de abril sobre um colapso no sistema de saúde. O país teve que adotar mais medidas restritivas e assim declarou estado de emergência para todo país.
Mesmo com o estado de emergência declarado, o Japão não declarou o lockdown. Por mais que muitas empresas no mundo tenha buscado o home office para esse período de crise, no Japão, muitos não têm esse direito, inclusive os operários brasileiros, que acabam temendo o contágio e o desemprego. Também precisamos citar o crescente número de denúncias feitas por trabalhadores sobre a discriminação de seus chefes que os sindicatos estão recebendo.
Produções de animes e adiamento de lançamentos
Desde o começo de março, antes mesmo da Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar a pandemia do novo coronavírus, já tínhamos notícias que alguns animes iriam ter suas datas de lançamentos adiadas. Isso é em conta de que, muitas vezes, a produção de um anime é terceirizada, podendo vários estúdios menores trabalharem com um único anime.
Desta forma, muitos destes pequenos estúdios podem ser encontrados na Coreia do Sul e na China, onde se deu o início à pandemia. Como por exemplo, Re:Zero, que estava previsto para lançar na Temporada de Primavera (Abril), teve sua data de estreia adiada para julho, já que um estúdio que iria finalizar algumas partes da coloração do anime se reside na China.
Animes que estão em lançamento há bastante tempo, como One Piece, já teve a confirmação que sua produção também está parada. Semanas antes, a Toei Animation, estúdio responsável pelo anime, fez um comercial com os personagens principais de One Piece falando sobre a importância de ficar em casa. Semanas depois, é noticiado que os seiyuus de One Piece estão todos em casa, onde já conseguimos prever que a pausa do anime iria acontecer. Outro anime que teve sua transmissão pausada foi Black Clover, do estúdio da Pierrot.
Temporada de Primavera
Exatamente no dia 11 de março, a OMS decreta estado de pandemia por conta do novo coronavírus. Os impactos na indústria de animes começam a crescer no fim de março e intensificam no mês de abril. Portanto quase todo dia sai uma notícia sobre alguma animação japonesa com sua data de estreia adiada ou sua transmissão parada.
Animes como Oregairu, um dos primeiros desta leva de adiamentos em abril e animes que já estavam lançando como Fugou Keiji Balance: Unlimited, pela CloverWorks, lançado no mês de abril, só vai ter seus primeiros 3 episódios lançados e sua transmissão será pausada, assim como vários outros animes da temporada. O anime, primeiramente adiado, poderá voltar em julho. Outro anime do estúdio CloverWorks também teve seu adiamento, The Promised Neverland, onde o anime iria lançar esse ano, foi adiado para 2021.
Concluindo, podemos encontrar a Temporada de Primavera parcialmente paralisada. É muito comum que as produções de animes não estejam acabadas mesmo quando o anime começa seu lançamento. Assim, com o problema do coronavírus, os estúdios não conseguindo concluir a produção de seus animes, a transmissão do anime precisa parar.
Animes que estão com a data de lançamento para a Temporada de Verão (Julho) possam sofrer alterações já que muito possivelmente suas produções se encontram paradas também. E já pensando mais para frente, infelizmente podemos até ter impacto na Temporada de Outono (outubro), onde os estúdios de animes tiveram que parar seus trabalhos e ainda possivelmente não conseguiram organizar a pré-produção da obra que será animada.
Adiamento de estreia de filmes
Também devemos citar o lançamentos de filmes que estavam previsto para o primeiro semestre do ano. Muitos filmes de animação japonesa que iriam estrear no cinema japonês acabaram tendo também suas estreias adiadas. Assim, podemos ver que os cinemas japoneses foram afetados, isso é tanto pelo fato do isolamento social, de pessoas não poderem ir ao cinema, e também, as produções paradas destes filmes.
Assim, como o filme Words Bubble Up Like Soda Pop, previsto para estrear no 15 de maio acabou sendo adiado. Outro filme que também teve seu adiamento foi Fate/stay night: Heaven’s Feel, o terceiro e último filme da franquia, que iria estrear 25 de abril e agora não tem data para seu lançamento. Outro filme que causou comoção aos fãs após seu adiamento foi de Given, que estava previsto seu lançamento para 16 de maio.
Eventos de animes cancelados
Outro fator importante é que muitos eventos de animes acabaram sendo cancelados também por conta do novo coronavírus. Um dos maiores exemplos foi o cancelamento do Anime Japan 2020, um dos eventos mais importantes sobre animes. Não só no Japão, mas também eventos no mundo todo foram cancelados como Anime Expo 2020, um dos maiores eventos de animes nos Estados Unidos.
O cancelamento destes eventos, acaba afetando de certa forma o mercado de animes, já que as vendas de mercadorias oficiais não acontecem, muito menos a realização de pacotes de inscrições de serviço de streaming ou assinaturas. Outro fator é que é bastante comum o anúncio de novidades de lançamentos nestes eventos, tanto de animes e/ou mangás. Portanto, isso acabou não acontecendo, onde os estúdios tiveram que fazer esses anúncios apenas em suas redes sociais.
Portanto, o impacto no cancelamento destes eventos é muito grande. Os realizadores, ao fazer um evento ao nível do Anime Japan ou do Anime Expo, precisam tomar várias medidas para o evento acontecer. Eles estudam o marketing que vão realizar para o evento, buscam patrocinadores, configuram sites e aplicativos para o futuro acesso dos frequentadores do evento, a programação dos possíveis painéis… Com isso já podemos entender o gasto de se fazer um grande evento. Além também, os realizadores procuram alinhar os convidados e trazendo bandas ou cantores para a execução de um concerto.
Eventos no Brasil
Aqui no Brasil, os organizadores do evento do Anime Friends se comunicaram em suas redes sociais no dia 23 de abril sobre o adiamento das edições do Anime Friends e Anime Friends Tour: Rio de Janeiro para 2021. Primeiramente, na mesma semana, a Maru Division, organizadora do evento, anunciaram que não iriam cancelar os eventos, o que acabou gerando algumas críticas em suas redes sociais.
Em São Paulo, o local que irá acontecer é no Anhembi, lugar que hoje foi transformado em um hospital de campanha pelo Governo do Estado de São Paulo. Se a Maru Division continuasse com a datas de seus eventos ainda para esse ano, seria muito arriscado. Outro evento que foi adiado é o Sana. Agora, ele irá acontecer nos dias 18 a 20 de dezembro de 2020. O evento cearense aconteceria em julho.
O impacto na indústria de mangás
Como já citei acima, o mercado de mangás começa a sofrer os primeiros impactos sobre a pandemia do novo coronavírus. Podemos começar analisando o problema da publicação, onde as distribuidoras precisam de materiais e esses produtos acabam não chegando porque as redes de entregas não conseguem entregar ou chegam até ficar paradas.
Já os centros de distribuições que ficam, por exemplo, nos Estados Unidos, acabaram sendo fechados de acordo com a carta divulgada de Steve Geppi no Anime News Network. Em um dos escritórios de Steve Geppi, distribuidor, editor e ex-proprietário de lojas de quadrinhos americano, eles conseguiram instituir o home office. Essas medidas foram feitas no final de março, ou seja, muitas outras distribuidoras chegaram a fechar e ainda esperam-se mais. No mesmo texto do site Anime News Network, Steve comenta que o melhor a se fazer nesta situação é cessar a distribuição de novos produtos semanais até que haja progressos positivos no combate ao coronavírus.
Em questão nas vendas, varejistas comentam que as mesmas caíram já que os vendedores não conseguem atender seus clientes. Eles são forçados a fechar por ação do governo e assim acabam recorrendo a entrega dos produtos. Já aquelas lojas que permanecem abertas, os vendedores comentam que reduziram muito o número de consumidores. Steve Geppi incentiva os vendedores usarem a sua própria criatividade para a venda destes produtos. Ou seja, tentando fazer promoções de quadrinhos ou até usando o eBay para a venda de seus produtos para conseguir receber dinheiro durante o período da pandemia.
A venda de mangás no Brasil
Já podemos sentir alguns impactos aqui no Brasil na venda de mangás das editoras brasileiras. Com suas lojas fechadas, a busca é comprar online, pelo site oficial da editora ou no site da Amazon, onde estamos encontrando alguns descontos de volumes.
A falta de comunicação da Panini
Inicialmente, a Panini disponibilizou o 1º volume de seus mangás digitais de graça, além de HQs. Entretanto a editora não avisou o feito em suas redes sociais. Panini disponibilizando esses volumes de graça pode ser uma chance para atrair mais fãs à poder conhecer suas obras.
Algo que podemos notar é que a Panini não comenta muito sobre o assunto, muito menos avisou seus leitores sobre os volumes digitais. Diferente da editora da NewPop que mais tenta manter os seus leitores informados. Eles explicam a situação atual e os problemas que a editora sofre atualmente por conta do novo coronavírus.
As lives da Newpop
Assim, a NewPop também está dando seus jeitos. Inicialmente, teve-se que adiar o NewPop Day, evento que comemora o aniversário da editora. Já durante a quarentena, a editora tenta se comunicar por meio de lives durante as semanas, comentando sobre as notícias atuais, os enfrentamentos da editora durante esse período. A NewPop não deixou de também anunciar novos títulos para lançamento como Given. A ideia de anunciar esses títulos agora é fazer uma pré-venda dos volumes para conseguirem lançar esses volumes em uma data mais distante.
De acordo com o blog Lacradores Desintoxicados, a editora tenta buscar títulos que teriam uma tiragem um pouco menor para nós consumidores. Junior, o diretor da editora, comenta que no momento atual da pandemia, a editora chegou a perder cerca de 70% do volume de vendas. Ele complementa que a editora recebeu poucos pedidos das lojas. A editora também comentou nestas lives que eles pretendem a começar a estudar o formato e-book, podendo ser uma boa oportunidade para a NewPop, mesmo ainda sendo uma editora pequena, o que preocupa o diretor da editora.
JBC e a distribuição de mangás
E a JBC também comentou sobre a pandemia. Inicialmente, a editora anunciou alguns títulos, em formato de live, como Nausicaa o Vale do Vento. Aproveitando então a live, Marcelo Del Greco explicou como o novo coronavírus poderia afetar a venda de mangás. Primeiramente, seu maior problema é o fechamento temporário da Japorama Store, a loja própria que fica em São Paulo.
Já sobre o problema da distribuição, a JBC, como qualquer outra editora, dependem de motoristas de caminhão e vendedores nas livrarias, assim, tudo parado, pode ser que os mangás fiquem no meio do caminho. Outra questão que foi posta pela JBC foi a dificuldade de importar alguns tipos de papéis usados nos mangás da editora.
Outro fator fundamental é o aumento do dólar, que ultrapassou já os 5 reais. Então como explica O Mais de 8 Mil: “os mangás brasileiros são licenciados em dólar, o papel é pago segundo a cotação do dólar e a moeda americana também afeta o preço do combustível, usado para a distribuição. Ou seja, a crise econômica fez o dólar disparar e isso será repassado cedo ou tarde para o público.”
O que esperar nos próximos dias?
É fato que para combater o coronavírus o principal meio que temos agora é o isolamento social. Parando estes serviços, e apenas permanecendo os serviços essenciais, começamos a enxergar uma crise que está por vir. Portanto, no Brasil, poderemos ter o possível aumento no preço nos mangás que consumimos. Não apenas por conta da pandemia e sim consequentemente por conta do aumento do dólar.
Agora no mês de abril até maio, vai ser comum vermos notícias dos animes que acompanhamos que vão acabar parando sua transmissão e estreias adiadas por conta da paralisação da produção de animes. Outro problema que vamos enfrentar possivelmente é a paralisação de lançamentos de mangás no Japão. Como algumas revistas já estão fazendo, como por exemplo, no caso da Hakusensha, que tenta reduzir a frequência de lançamentos. A revista é encarregada de alguns títulos importantes como Akatsuki no Yona.
Portanto precisamos ser pacientes com esse momento. Infelizmente vamos sofrer adiamentos e paralisações de nossas obras favoritas. Desta forma, você que tenta assistir algum anime para tentar descontrair a mente nesses momentos, tente ir em busca de outros que não estão em lançamentos, animes já concluídos. O ideal é sempre estar informado, ainda mais neste momento de pandemia, mas tente manter consumo saudável de informações neste período de distanciamento social. Uma dica, como aqui no Chimichangas, estou tentando fazer listas de indicações de animes para os fãs possam maratonar neste momento e pode ser uma boa indicação de animes para os leitores.
Em suma, se você quer entender mais sobre como o impacto do novo coronavírus pode afetar o mercado de animes e mangás, quais obras foram adiadas, o que podemos esperar mais, indico vocês assistirem o vídeo da Gabi Xavier, onde ela explica detalhadamente esse assunto. Outro site que está atualizando as informações dos animes adiados e paralisados é o Jbox.