Retomando o tema sobre worldbuilding no site, um dos termos mais importantes para o desenvolvimento de uma história, inclusive em histórias do gênero de fantasia. Já analisado a construção de mundo de One Piece, vamos dessa vez analisar como é o worldbuilding no anime Magi the Labyrinth of Magic. A autora construiu cada elemento para o enredo fluir, fortalecendo dois pontos muito importantes para sua história: a política e a economia do universo.  

Magi: The Labyrinth of Magic (tradução: Magi: O Labirinto da Magia) é um mangá japonês publicado no ano de 2009, escrito e ilustrado por Shinobu Ohtaka. A história gira em torno de um universo alternativo onde temos o personagem Aladdin que viaja pelo mundo atrás de recipientes que contenham Djinns. Ele acaba encontrando Alibaba. Ambos começam uma grande amizade verdadeira. Os dois resolvem uma das Dungeons, um grande castelo, para conquistar os tesouros que ela possui. 

Em 2013, Magi ganhou uma adaptação para anime pelo estúdio A-1 Pictures, contendo duas temporadas e foi distribuída pela Netflix. O mangá de Ohtaka foi encerrado no ano de 2017. A obra ainda possui um spin-off chamado Sinbad no Bouken, que acompanha as aventuras do personagem Sinbad antes dele virar o rei de Sindria.  

Portanto, Ohtaka criou um universo original, contendo alguns elementos inspirados na Antiguidade do nosso mundo. Esses elementos, assim como outros criados pela autora, precisam ser mostrados e explicativos para o espectador, para passar a sensação que aquele universo é verdadeiro para quem acompanha a história. 

O universo de Magi

Primeiramente, apresentando de uma forma geral o universo que se passa a história de Magi, temos vários personagens, nações e contos que assemelham-se com homólogos da vida real. Em seu universo, o que também se destaca são os vários castelos mágicos, cheios de tesouros, armadilhas e desafios, que são conhecidos como Dungeons. Em cada castelo desse, possui um Djinn (Gênio). Cada pessoa que conseguir conquistar uma Dungeon, ganha lealdade deste Djinn e também ganha poderes mágicos. 

Uma das Dugeons

As Dungeons são construções gigantes que são espalhadas pelo mundo e que começaram a surgir há partir de 14 anos atrás em relação a história de Magi. Conquistar uma Dungeon é uma tarefa difícil, pois tropas inteiras já perderam suas vidas tentando conquistá-las. Cada nação do universo de Magi tenta conquistar o máximo de Dungeons possíveis para benefício próprio, tendo uma influência de poder muito forte para cada nação. 

Além das Dungeons, Ohtaka apresenta elementos muito importantes que vamos analisar, com enfoque na geografia, política, economia, cultura e a física desse universo.   

Geografia: Os continentes 

Um dos elementos mais importantes para a narrativa é o cenário natural que a história vai se passar. Focando na análise então da construção geográfica do universo de Magi, a autora divide seu mapa em continentes e regiões importantes para a história. 

Primeiramente, sobre os continentes, Magi possui três continentes: O Continente Ocidental, situado nações como Reim e Parthevia, que comentarei depois; o Continente Oriental, que têm nações no extremo-este, oriente-médio e oeste do continente; e por fim, o Continente Negro, continente cujas nações são consideradas pouco desenvolvidas. Neste local, situa-se uma região misteriosa conhecida como “Grande Abismo”, um local cuja profundidade é tão vasta que chega a ser um grande mistério para todos os exploradores. 

O grande abismo no Continente Negro

A construção desse mapa está interligada totalmente com a proposta do anime, que são as questões políticas e econômicas que vão ser apresentadas para o espectador durante o enredo. Especificando cada elemento geográfico, como a questão marítima, é trabalhado diretamente com a questão do comércio, um ponto forte inclusive em Sinbad no Bouken. Já os territórios de cada reino, temos a demonstração do poder militar que cada império possui, inclusive de Kou e Reim. Temos também mudanças de fronteiras durante a história, por conta dos crescentes impérios ou pelo fraco poder militar de um reino.  

Política e economia: O ponto forte da história

Império Kou

Sendo então um dos pontos mais fortes de Magi, a construção dos elementos que compõem a política e a economia neste universo são totalmente pensados para o enredo funcionar. Primeiramente, falando sobre um pouco sobre a política, temos as nações em Magi. A grande maioria possuem monarquias como forma de governo. 

Alguns impérios se destacam pelo seu forte poder militar, como o Império Kou, uma grande potência militarizada considerada a mais poderosa e perigosa, tendo um sistema de monarquia.  

Outra nação que merece destaque é o Império Reim, uma grande potência econômica e militar no Continente Ocidental. O sistema de governo é uma monarquia eletiva e oligarquia, regime político que o poder é exercido por um pequeno grupo de pessoas. Assim, os principais governantes do império são o imperador, o senado e a sumo-sacerdotisa, a Magi Scheherazade.

Magi Scheherazade

Nações também se destacam pelo seu sistema de comércio, como o exemplo de Ballbad, ainda mais na época que ele é retratado em Sinbad no Bouken. É mostrado seu grande poder comercial, tendo seu ponto forte no comércio marítimo, já que o país, relativamente pequeno, está localizado próximo ao mar.

Assim, a política e a economia são dois pontos trabalhados na história de Magi, tendo muitos conflitos que giram em torno dessas duas questões. Cada nação tem o objetivo de crescer, tanto em economia, como território, tentando tornar a nação mais poderosa do mundo de Magi. A cada arco que nos é mostrado alguma nação, somos apresentados seus pontos fortes e fracos. Voltando ao exemplo de Ballbad, em Magi, com a morte do Rei Rashid Saluja, a economia da nação entrou em declínio pela má gestão de seu sucessor. Então vemos uma nação que enfrenta grandes problemas econômicos, diferente do que foi mostrado em Sinbad no Bouken

Organizações e entidades importantes

Aliança dos Sete Mares

Além dos sistemas políticos de cada nação, temos organizações que possuem uma influência muito importante no mundo de Magi. Primeiramente, como já citei, temos as companhias de comércio, que são bastante comuns no Continente Ocidental, principalmente no Império de Reim. Elas vão atuar como pequenas guildas ou associações comerciais que procuram focar na comercialização de um ou mais tipos de produto. Isso é mostrado mais em Sinbad no Bouken, ainda mais quando Sinbad funda sua própria companhia. 

No entanto, guerras e conflitos que acontecem no mundo acabam atrapalhando o crescimento do comércio, ainda mais por conta do crescimento do Império Kou, que influencia negativamente essas companhias de comércio, já que o império tem sua economia fechada. 

Uma das organizações mais importantes em Magi é a Aliança dos Sete Mares, criada por Sinbad. É uma grande aliança entre nações que necessariamente não possuem um poderio militar suficiente para serem consideradas grandes potências. No entanto, a aliança unida é bastante poderosa. A organização foi criada para benefício de Sinbad, que sonhava em criar um país, implantando questões políticas e econômicas que ele mais simpatizava.

Assim, é importante entender qual é a crença de cada personagem na história de Magi. Kouen, por exemplo, acredita que precisa fortalecer mais seu império, tentando expandir seu território ao máximo. Sinbad é diferente, onde é mostrado desde o seu spin-off, que ele tem um certo desgosto por alguns sistemas de poder, inclusive de Parthevia, onde viveu e vivenciou seus pais falecerem por conta do sistema. Assim, ele quer ser um rei respeitado pela sua nação. No entanto, o mesmo quase cai em depravação, se tornando algo que ele não defendia no começo.

Al-Thamen

Por fim, temos a organização Al-Thamen, que influencia negativamente o Grande Fluxo de Magia. Eles buscam a destruição do mundo atual por meio de anormalidades nefastas causadas pela depravação, que falarei mais a frente. 

As diversas culturas em Magi

Reino de Sasan

Outro ponto muito interessante em ser analisado em Magi é a cultura das nações. A cada momento que Alibaba e seus companheiros visitam algum local, é mostrado vários elementos que compõem a nação que eles estão. Essa proposta pode também ser mostrada em Sinbad no Bouken. Sinbad se depara principalmente com diferentes culturas, principalmente em muitas nações pequenas, isoladas das grandes nações, que tendem a ser totalmente fechadas para visitantes.     

Podemos dar o exemplo do reino de Sasan, que aparece em Sinbad no Bouken. A religião é o papel central no reino, os cidadãos possuem uma forte crença nos Deuses Antigos. De acordo com um site de RPG de Magi, a religião chegou a doutrinar todos os aspectos da cultura de Sasan, eles acreditavam que a riqueza dos recursos naturais se dava por conta dos Deuses. A nação também evitava ao máximo entrar em contato com o mundo exterior. No entanto, isso muda quando Sinbad os convidam para participarem da Aliança dos Sete Mares

Artemyra

Outro reino que ganha destaque em Sinbad no Bouken é Artemyra, uma sociedade inteiramente matriarcal, onde o papel dos gêneros é praticamente o reverso do resto do mundo. Artemyra é controlado por amazonas guerreiras, as mulheres cuidam de qualquer tipo de trabalho defensivo, político e diplomático. 

Portanto, por mais que tenhamos nações que têm grande influência no universo de Magi, ainda temos aquelas isoladas, fazendo sentido para o espectador encontrar contextos sociais e culturais diferentes nessas nações. Ohtaka consegue então apresentar diferentes propostas, tendo um leque de oportunidades para trabalhar e apresentar histórias diferentes para cada nação. 

Física: As regras deste universo e os poderes

Magi Yunan

Como já citei antes, neste mundo, temos as Dungeons e os Djinns. Ohtaka também nos apresenta pontos importantes, ligados a fantasia, que traz influências positivas e negativas para as nações.   

Primeiramente, temos os Magi, feiticeiros que possuem o papel de guiar as massas e escolher reis. “Esses Magi surgem durante viradas cruciais na história e direcionam o fluxo do mundo assim como o de incontáveis vidas.”. Assim, cabe então ele seguir seu Candidato a Rei, para aconselhá-lo. Na era atual do anime, é mostrado apenas três Magi: Scheherazade do Império Reim, já citada; Judal, Magi do Império Kou e Yunan, que não possui nenhuma ligação com algum império. E mais tarde, aparece Aladdin, que se liga diretamente com Alibaba.

Judal

Podemos entender então que a influência dos Magi é muito importante para cada nação. Quando um deles escolhe seu Candidato a Rei, entendemos a importância da pessoa e poder que ela possui. Outra questão é que, quanto mais a pessoa conquista Dungeons e possuir Djinns, mais forte a pessoa se torna, como é no caso de Kouen, integrante do Império Kou, um dos candidatos a rei por Judal, que conquistou mais de uma Dungeon.

Em questão de magia, também temos as entidades místicas que rodeiam a Terra e os humanos. Acredita-se que os Rukh são a fonte de fenômenos naturais existentes no mundo, tornando-se a base de toda a magia, o Magoi. No entanto, o Rukh pode ser influenciado pelo ser vivo que o rodeia, portanto, se esse ser humano cair em depravação, seu Rukh escurece, não podendo mais retornar ao grande fluxo.

Desse modo, conseguimos entender quem possui desejos positivos diante desse universo, enquanto outros cai em total depravação, como no caso da organização Al-Thamen, que os integrantes buscam gerar caos e desordem no mundo de Magi

O interessante worldbuilding de Magi

Podemos concluir que a ideia do worldbuilding precisa ter elementos que se interligam para assim conduzir a história, os personagens e suas ações. Portanto, em Magi, conseguimos enxergar como os elementos trazem essa proposta. Desde geografia até os poderes que os personagens possuem estão interligados e causam consequências de uma forma geral a outros elementos do universo. 

Ohtaka consegue então trabalhar com um universo detalhado e bem alinhado. Ela foca mais nas questões políticas e econômicas, tendo diferentes tipos de governo e propostas diferentes de comércio, se destacando mais o comércio marítimo. Desse modo, Ohtaka nos apresenta um leque de possibilidades, ainda mais sobre a cultura, tendo uma grande diferença que o espectador consegue sentir sobre cada nação. 

Já a fantasia consegue trazer um tom de inovação para o anime de Magi, os ideais e escolhas dos personagens podem trazer questões positivas ou negativas em relação ao Grande Fluxo da Magia, além também de poder influenciar figuras importantes na questão da política. Desse modo, a obra de Ohtaka Shinobu consegue se destacar quando o assunto é worldbuilding, em que seu universo consegue acompanhar o enredo fantástico apresentado em Magi

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