Animes não são apenas adaptados de mangás e light novels, podemos encontrar obras que foram adaptadas de livros como é o caso dos animes que compõem o projeto World Masterpiece Theater que foram série de animes baseadas em histórias de livros clássicos ocidentais. 

A série World Masterpiece Theather, ou em japonês Sekai Meisaku Gekijou, teve seus primeiros animes produzidos pelos estúdios Mushi Production e a Zuiyo Eizo, para finalmente ser produzida pela Nippon Animation em 1975, no ano da formação do estúdio. A série durou até o ano de 1997 com 23 temporadas e eram lançados episódios semanalmente. Após uma longa pausa, em 2007, o World Masterpiece Theater retorna com adaptações de novos clássicos da literatura do ocidente. 

Os animes da World Masterpiece Theater não fizeram só sucesso no Japão, mas também em países asiáticos, europeus e até em Portugal e no Brasil, onde alguns animes da série chegaram a passar em alguns canais da televisão brasileira. Em 2017, a Amazon Prime Vídeo disponibilizou várias séries em qualidade HD para os Estados Unidos e o Reino Unido. No entanto, a Amazon não utilizou o nome da série, assim mantendo apenas a legenda para cada anime, parecendo que os animes não participavam de um mesmo projeto. 

A ideia desse programa exibido na televisão japonesa era como se o anime fosse exibido em estilo “novela” e voltados para públicos de todas as idades, ou seja, para a família inteira. De acordo com um fórum no site My Anime list, criado por conta da série, outro nome que a série acabou ganhando pela Nippon Animation para tradução fora do Japão foi “The Classic Family Theater Series” ( tradução: “Séries teatrais clássicas para a família”). Dessa maneira, a proposta desse texto é citar algumas obras do projeto World Masterpiece Theather que tiveram seu marco durante os anos de serialização do projeto. 

Alguns animes da World Masterpiece Theater

1. Heidi: A Menina dos Alpes

Baseado no livro “Heidi” de 1880 da escritora suíça de expressão alemã Johanna Spyri, o anime Heidi: A Menina dos Alpes, ou seu nome em japonês Alps no Shoujo Heidi foi dirigido por Isao Takahata, um dos co-fundadores do Studio Ghibli. O anime foi lançado em 1974, antes da Nippon Animation ser estabelecido como estúdio. Desse modo, o anime Heidi é o sexto anime adaptado da World Masterpiece Theather.  

Assim como no livro, a história gira em torno da protagonista Adelaide, ou Heidi, como é carinhosamente chamada. Ela é órfã de cinco anos que é criada por sua tia com muitas dificuldades desde a trágica morte dos seus pais. Sua tia acaba arranjando um trabalho em Frankfurt, capital da Alemanha. Assim ela resolve levar Heidi para viver com o avô nos Alpes suíços. 

O avô da garota é conhecido por todos como “o velho da montanha”, onde ele vive sozinho em uma cabana na montanha com seu cachorro. Ele tem uma péssima reputação na cidade, onde os habitantes espalham rumores que ele matou um homem quando era mais novo. Tudo muda então na vida do avô quando ele recebe Heidi, onde os dois começam a viver dias de verão nas montanhas.  

Cena clássica que virou meme vem do anime Heidi

O anime Alps no Shoujo Heidi, além de ser transmitido no Japão, estreou na televisão portuguesa na versão em japonês com legendas em português. O anime só ganhou uma dublagem em português após o sucesso de Marco, outro anime da série que comentarei no texto. No Brasil, a série chegou a passar na Rede Tupi em 1977 e depois exibida pelo SBT nos anos 80 e pela Rede Record

2. O Cachorro de Flandres

O anime é baseado no romance “A Dog of Flanders” da escritora britânica Maria Louise Ramé, ou mais conhecida pelo seu pseudônimo Ouida. O Cachorro de Flandes, ou conhecido como seu título em japonês Flanders no Inu, foi lançado no ano de 1975, sendo o primeiro anime após o estúdio Nippon Animation ser oficialmente estabelecido no mesmo ano. 

A história do anime acompanha o pequeno Nello que é membro de uma família considerada pobre. Seus pais morreram e por essa razão ele agora mora com seu avô, onde o garoto trabalha com ele vendendo leite. No entanto, o avô de Nello não se preocupa com a saúde, o que deixa o garoto preocupado.

Um dia, Nello se encontra com um cão, vítima de abuso de seu dono cruel. Nello acaba levando o cachorro com ele e assim começa uma grande amizade entre ele e o cão. O cachorro, que tem o nome Patrasche, fica muito agradecido pela compaixão de Nello e se assegura para ajudá-lo com o trabalho de carregar e vender leite. Os problemas aparecem mais tarde quando o dinheiro começa a fazer falta.

Uma curiosidade é que, de acordo com o próprio site da Nippon Animation, durante o processo de produção do anime, os animadores realizaram uma pesquisa sobre a região de Flandres do século 19, que fica no norte da Bélgica. Diferente de Heidi, o O Cachorro de Flandres não chegou a ser transmitido em países de língua portuguesa. O anime também teve algumas alterações em relação à história original, mas o enredo ainda se manteve fiel. Todavia, os fãs que assistiram o anime, e quem conhece a história, sabe que a mesma tem um final bem triste. 

O romance no Japão é um clássico infantil extremamente popular. Já na Bélgica, possui três monumentos para homenagear a história. De acordo com o site Wayback Machine, em um desses monumentos, que fica em uma das catedrais de Antuérpia, cidade na região de Flandres, tem um texto em inglês e japonês: “Nello, e seu cachorro Patrasche, personagens principais da história, símbolos de verdadeira e severa amizade, lealdade e devoção”. 

3. Marco

Depois do sucesso de O Cachorro de Flandres, a Nippon Animation lança em seguida o anime Marco no ano de 1976. A história é adaptação um conto mensal do romance “Heart”, chamada “Dos Apeninos aos Andes”, do escritor italiano Edmondo de Amicis. A direção do anime ficou por conta também de Isao Takahata, e o supervisor de arte foi Hayao Miyazaki, outro co-fundador do Studio Ghibli. Seu título em japonês é Haha wo Tazunete Sanzenri.

O anime então mostra Marco, um garoto que vive com sua família em Gênova, na época da depressão de 1881, marcada pela crise na Itália e em toda a Europa que tiveram uma recessão econômica impulsionado pela Segunda Revolução Industrial. O pai de Marco é um médico que se dedica a cuidar de pacientes pobres, o que leva a família a dificuldades financeiras. Sua mãe vai para a Argentina para trabalhar como empregada doméstica para ganhar dinheiro. 

No entanto, quando as cartas da mãe param de chegar, depois da notícia que ela estava doente, Marco fica preocupado, pensando que o pior pode ter acontecido. Assim, Marco embarca em um navio rumo ao Brasil. 

A série foi dublada em várias línguas, inclusive em Portugal e no Brasil. O anime no Brasil foi transmitido pela primeira vez em 1979 pela TV Tupi, no quadro “Domingo no Parque”, no Programa Silvio Santos, estratégia também usada no anime Heidi. De acordo com o Blog do Ramaile (2008), a dublagem do protagonista Marco, feita por Leda Fiqueiró foi muito marcante. A série chegou a passar também no SBT e na TV Record. Uma longa metragem que resumia o anime de 52 episódios foi lançada nos anos 80. No Brasil, o filme foi exibido no canal Rede Manchete

4. Ana dos Cabelos Ruivos

Adaptado do livro “Anne of Green Gables” (1908) da escritora canadense Lucy Maud Montgomery, Ana dos Cabelos Ruivos, ou Akage no Anne, é dirigido por Isao Takahata, também com Hayao Miyazaki no projeto, que ficou encarregado nas produções dos cenários e layouts de cena. O anime foi lançado no ano de 1979.

Contando então com 50 episódios, o anime se passa na Ilha do Príncipe Eduardo, no Canadá, no final do século XIX. A protagonista Anne é uma órfã bastante sonhadora e alegre. Ela acaba sendo adotada pelo casal de irmãos Cuthbert. No entanto, os dois queriam adotar um garoto para ajudar na fazenda da família. Apesar da confusão, Marília e Matthew decidem ficar com Anne.  

Anne se destaca pela sua personalidade, ela é bastante curiosa e gosta de ler livros. Dessa forma, tanto a imaginação, como a leitura, são um escape para a garota. Durante o anime, vemos o desenvolvimento interno de Anne, que vai se tornando mais independente e responsável. Para uma análise mais completa, recomendo o texto que escrevi sobre Akage no Anne no site NSV Mundo Geek

Além da série estrear no Japão, ela também foi lançada em 1987 em Portugal, com dublagem. Após da longa pausa da Nippon Animation com World Masterpiece Theater, em 2009 é lançado Konnichiwa Anne: Before Green Gables, adaptado a partir da primeira versão da história de Anne Shirley. Outra mídia que ficou bastante famosa foi a série Anne With an E, da Netflix de 2017, que já analisei aqui no site

5. Princesa Sarah

Mais um anime da World Masterpiece Theater, lançado em 1985, a Princesa Sarah é a série de anime japonesa adaptada do livro da escritora inglesa Frances Hodgson Burnett. A série teve um total de 46 episódios. O anime chegou a ser selecionado como uma das 100 melhores séries de anime japonesa de todos os tempos pelos espectadores da TV Asahi, rede de televisão japonesa.  

Dessa forma, o anime conta a história de Sarah Crewe, filha de uma família inglesa rica na Índia. Ela acaba participando de um seminário da seleção de garotas num internato em Londres, onde ela se destaca em seus estudos e é adorada por muitas de suas colegas. 

Entretanto, o pai de Sarah morre e sua família vai à falência. Sarah acaba virando órfã e pobre, e assim, a diretora da escola aproveita da situação da garota e faz dela uma empregada da escola, para fazer a vida dela mais infeliz. Desse modo, Sarah vai ter ajuda de seus amigos para suportar todas as suas dificuldades. 

Por mais que a série não tenha ganhado uma dublagem para o português, Princesa Sarah foi transmitida em vários outros países do mundo e traduzida em várias línguas, incluindo francês, espanhol, italiano e entre outras. A obra de Frances ganhou também uma adaptação americana de longa metragem lançada em 1995, dirigido por Alfonso Cuarón.

6. Pollyanna

Pollyanna foi lançado em 1986, contendo 51 episódios. O anime foi adaptado do livro de Eleanor H. Porter de 1913, considerado um clássico da literatura infantojuvenil. O segundo livro, que também foi adaptado para anime, foi lançado dois anos depois, chamado “Pollyana Moça” aqui no Brasil. O anime chegou a ser transmitido em Portugal. 

Pollyanna Whittier é uma menina alegre que, depois da morte de seu pai, passa a morar com sua tia Polly na aldeia de Beldingsville. No entanto, a tia não está contente com a chegada de Pollyana. A mulher é solteira de caráter rigoroso e acredita que hospedar a garota em sua casa é apenas seu dever. 

A garota tenta compartilhar um pouco de alegria e otimismo com as pessoas que ela conhece na aldeia, ainda mais aqueles que estão deprimidos e doentes. No entanto, Pollyana perde seu otimismo no dia em que ela é atropelada por um automóvel e perde a habilidade de caminhar, causando uma dor nela e para todos que gostam dela.

7. As Mulherzinhas

Adaptado do romance de Louisa May Alcott, As Mulherzinhas, também conhecida como Ai no Wakakusa Monogatari, foi lançado no ano de 1987. O anime chegou a ter uma sequência lançada em 1993. As Mulherzinhas, no anime, por mais que seja uma adaptação, ela acaba introduzindo novos materiais e personagens. 

O anime começa com a família March vivendo em Gettysburg, a cidade vizinha de York, na Pensilvânia. Um dia, Sr. March decide deixar sua família para apoiar o Exército da União durante a Guerra Civil Americana. O exército da União chega na batalha que se seguiu até a casa da família March que foi destruída e suas poupanças acabam sendo roubadas. A família deixa a cidade para serem abrigadas pela tia distante do pai. 

Meg encontra trabalho como governanta, enquanto Jo tenta ser uma companheira para tia March, e também tenta vender uma pequena história para um jornal local. Com o tempo, a família March se muda para uma nova casa e os eventos começam a referenciar o enredo do romance original. 

Além de passar na televisão japonesa, a série também foi transmitida na televisão portuguesa, ganhando uma dublagem. A série conta com a participação de vários da equipe do Studio Ghibli, incluindo o designer de personagem, Yoshifumi Kondo e o diretor de animação, Atsuko Otani. Nos Estados Unidos, a série foi transmitida pelo canal HBO sob o título Tales of Little Women

8. Papá das Pernas Altas

O anime Papá das Pernas Altas, ou seu nome em japonês, Watashi no Ashinaga Ojisan, foi baseado no romance “Papai Pernilongo” escrito por Jean Webster, onde o livro alcançou sucesso também nas suas adaptações para o cinema. O anime então foi lançado em 1990 e foi premiada como o Melhor Filme para Televisão pela Agência Japonesa de Assuntos Culturais para Crianças.

Assim, Papá das Pernas Altas conta a história da protagonista Judy Abbot, uma órfã que foi dada a oportunidade de estudar na prestigiada Lincoln Memorial High School por um misterioso benfeitor que ela só conhece como “John Smith”. A garota só viu sua sombra uma vez, assim ela o chama de “Papá das Pernas Altas” por causa de suas longas pernas. 

O único pagamento que ela dá a John Smith é escrevendo cartas a cada mês para ele mas sem expectativas de serem respondidas. Assim, o anime mostra os 3 anos da vida de Judy, dela deixando o orfanato até terminar o ensino médio. 

Como outras obras da escritora Jean, Papá das Pernas Altas é marcado por trazer uma protagonista intelectual e sociável. No entanto, a garota tem um complexo de inferioridade por ser órfã, assim ela não é capaz de confiar em ninguém. O anime Papá das Pernas Altas chegou a ser transmitido pela televisão portuguesa, ganhando uma dublagem. 

Outros animes da World Masterpiece Theater

Neste texto citei algumas obras que fizeram sucesso durante a transmissão da World Masterpiece Theater no Japão. O sucesso não se prendeu apenas no Japão, tendo uma grande visibilidade em outros países, inclusive em países lusófonos. 

No entanto, são muitos animes da série da World Masterpiece Theater, onde não conseguiria recomendar todos em apenas um único texto. Assim, para curiosidade, recomendo acessar a lista de todos os animes que fazem parte da World Masterpiece Theater. Essa série é mais um projeto trazido do Japão que, por mais que os animes foram baseados em histórias de livros infantis, as obras podem ser assistidas por todas as idades. 

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