Nos últimos anos o cinema tem dado passos interessantes na tentativa de trazer histórias mais inclusivas e que mostrem a realidade de diferentes tipos de pessoas. Uma dessas tentativas é a inclusão de protagonistas surdos e mudos, ou apenas surdos. Alguns desses filmes chegaram a concorrer e ganhar prêmios nas principais premiações do mundo, como Cannes, Oscar e outros. 

É importante sempre dizer que os filmes possuem temáticas muito diferentes, mas que incluem personagens surdos, ou surdos e mudos, não de forma desleixada, mas sim com grande importância na trama. Nos ajudam a entender as dificuldades do outro, assim como entender as vivências dele. 

Em todos os filmes, a existência do personagem surdo/surdo e mudo muda totalmente a experiência do espectador, dando uma boa abertura para observar o outro e sentir empatia. Sem eles o filme ou seria apenas mais um ou simplesmente não existiria. Pensando nisso, faz sentido recomendar os 6 filmes e falar mais de cada um.

Um Lugar Silencioso

Uma mistura de suspense, com sci fi e terror, Um Lugar Silencioso tem que estar na lista de qualquer pessoa. É um filme intenso, angustiante e ao mesmo tempo instigante. Acabei demorando mais do que eu queria para ver, mas me impactou muito. O filme foi lançado em 2018.

Da esquerda para a direita: Marcus é o menino, Regan a garota que é surda e muda e o pai dos dois, John.

Sinopse: Em uma fazenda dos Estados Unidos, uma família do meio-oeste é perseguida por uma entidade fantasmagórica assustadora. Para se protegerem, eles devem permanecer em silêncio absoluto, a qualquer custo, pois o perigo é ativado pela percepção do som.

A filha do casal protagonista é surda e muda, e portanto a família toda se adaptou a falar na língua de sinais, o que ajuda muito todos a se comunicarem. O universo criado é extremamente interessante, e o filme pensa muito na experiência do espectador, a tensão é tão grande que parece que estamos dentro daquela realidade. A parte 2 do filme será lançada em 2020.

A Forma da Água

Indicado ao Oscar em diversas categorias, A Forma Da Água é um filme do Guilherme Del Toro, então era de se esperar bichos que não são humanos, assim como um universo totalmente único e marcante. Foi lançado também em 2018, e ganhou a estatueta de ouro algumas vezes. 

Por incrível que pareça o filme não é nada mirabolante e nem especial ao ponto de ser considerado um suprassumo do cinema. A questão de seu sucesso é particularmente porque o simples foi dirigido e produzido de forma impecável. A fotografia é linda, a ambientação é muito bem feita e a protagonista, surda e muda, é extremamente carismática sem necessitar de voz alguma. 

Da esquerda para direita: Elisa limpando a sala em que a criatura se encontra e sua amiga Zelda ao lado.

Sinopse: Década de 60. Em meio aos grandes conflitos políticos e transformações sociais dos Estados Unidos da Guerra Fria, a muda Elisa (Sally Hawkins), zeladora em um laboratório experimental secreto do governo, se afeiçoa a uma criatura fantástica mantida presa e maltratada no local. Para executar um arriscado e apaixonado resgate ela recorre ao melhor amigo Giles (Richard Jenkins) e à colega de turno Zelda (Octavia Spencer).

The Silence

 Na tentativa de aproveitar o embalo do sucesso de Um Lugar Silencioso, The Silence veio com a proposta também de inimigos que passaram a destruir a humanidade acompanhando os rastros de som. Acontece que Um Lugar Silencioso foi feito com cuidado e é muito mais convincente. Anos luz mais bem produzido também. 

The Silence é o querido caso de querer criar uma catástrofe sem pé nem cabeça, com um milhão de furos. A protagonista é surda, porém ela utiliza o aparelho no ouvido e pode ouvir e falar, com algumas dificuldades. O problema é que a ideia do filme é os personagens não conversarem, mas eles falam o tempo todo no filme (mesmo que tentam abaixar a voz). 

A ameaça do início é uma espécie de pássaro pré-histórico que ficou preso em um tipo de montanha. Em uma escavação, as feras foram libertadas sem querer, e aí o caos começou nos EUA. O filme é original Netflix e foi lançado ainda em abril de 2019. É simplesmente terrível do início ao fim do filme. 

Sinopse: Após a exploração de uma caverna desconhecida, um grupo de investigadores libera ao mundo uma espécie desconhecida de predadores. Chamados de “vespas”, estes serem voadores e sem olhos se guiam pelo som, e rapidamente semeiam o caos nas maiores cidades mundiais, matando milhares de pessoas. A única maneira de ficar em segurança é não fazer nenhum barulho. Neste cenário pós-apocalíptico, uma jovem surda (Kiernan Shipka) e seu pai (Stanley Tucci) fazem o possível para salvar toda a família do ataque iminente.

Koe no Katachi – A Voz do Silêncio

O filme é uma animação japonesa, que conta a história de uma garota surda chamada Shouko, que passa a frequentar uma escola do ginasial. Para se adaptar, ela utiliza o aparelho auditivo, porém ainda possui inúmeras dificuldades de falar, por ainda estar aprendendo as falas. Portanto ela tenta se relacionar por texto, mas toda a adaptação dela em um colégio comum é bem traumático e complicado para ela. 

Para piorar essa situação, ela passa a ser alvo de bullying, em ações bem cruéis. O meliante que mais ataca a garota é Shoya, que destruiu inúmeras vezes os aparelhos auditivos, jogou seus objetos escolares na fonte da escola, entre mais tantas outros ataques que fizeram com que a mãe acionasse a direção da escola e processasse a mãe do garoto. Aquele sentimento de justiça feita sequer é sentida, pois o garoto, atônito com tudo que tinha feito, passa a ser o novo alvo de bullying, tão ou mais pesados do que os que fazia. 

Anos depois, já no colegial, Shoya acaba trombando com a Shouko, e tenta se tornar amigo dela, numa tentativa de redenção completa. Ele aprendeu língua de sinais, trabalhou meio período para devolver o dinheiro para a mãe, que pagou o processo na Justiça, entre outras ações. Daí em diante saberemos mais sobre a relação entre os dois e o passado de ambos. O filme é de 2016, mas ainda é extremamente atual. 

Shouko e Shoya e seus amigos. O filme é uma adaptação do mangá de mesmo nome e foi lançado no Brasil pela editora NewPop.

Sinopse: Shouya é um bully, suas brincadeiras infantis são uma verdadeira tortura para sua colega de classe, Shouko, uma nova aluna surda. Conforme a coisa piora e todos ao seu redor parecem ignorar ou estimular as brincadeiras maldosas, Shouya passa dos limites, forçando Shouko a mudar de escola. Tendo sido considerado o culpado por tudo, agora é ele quem sofre torturas e bullying, aprendendo na pele o seu erro. Agora, seis anos depois, o rapaz decide encarar de frente a menina que atormentou e tentar corrigir os erros do seu passado. Será que ele conseguirá sua redenção?

A Família Bélier

Saindo de Hollywood, um filme encantador sobre inclusão e realidade de uma família com deficiência auditiva, A Família Bélier é um filme francês, que conta a história da família Bélier, composta por 3 surdos e uma filha que tenta ajudá-los a dar mais acessibilidade na sociedade. 

Paula, a filha, é uma colegial, ainda em fase de maturidade, que divide sua vida em querer ser uma cantora e ajudar seus pais surdos na fazenda da família. Ela é a filha mais velha, e aprendeu a língua de sinais de seus pais. Ela traduz os programas de televisão, ajuda nas vendas de queijo na feira da cidade, assim como em outros afazeres diários. 

O filho mais novo, também surdo e mudo, é menos dependente de Paula, mas ainda assim ela carrega esse sentimento de dever todo os dias. Mas enfim ela aceita entrar para o coral da escola e tentar sair de seu ambiente um tanto quanto sufocante. Sua família não consegue ouvir Paula, portanto não sabem o quão bela é sua voz e sua performance no canto. 

Essa barreira entre eles acaba sendo desenvolvido de maneira linda e incrível durante o filme, e no fim a gente acaba ficando muito emocionado com o papel de cada um dos Bélier. Entre todos os filmes, esse é o que mais é possível observar a inclusão e se colocar no lugar do outro. 

Paula e seu pai.

Sinopse: Paula (Louane Emera) é uma adolescente francesa que enfrenta todas as questões comuns de sua idade: o primeiro amor, os problemas na escola, as brigas com os pais… Mas a sua família tem algo diferente: seu pai (François Damiens), sua mãe (Karin Viard) e o irmão são surdos e mudos. É Paula quem administra a fazenda familiar, e que traduz a língua de sinais nas conversas com os vizinhos. Um dia, ela descobre ter o talento para o canto, podendo integrar uma escola prestigiosa em Paris. Mas como abandonar os pais e os irmãos?

Hush – a morte ouve

Voltando para a temática de suspense a terror, Hush: a morte ouve, conta a história de uma romancista que escreve uma série de livros bem famosa, e que se isolou em sua casa no interior de uma cidade dos EUA para terminar seu livro. Porém ela é uma pessoa surda e muda. Apesar de ser independente, há algumas vezes que a deficiência pode ser um tanto complicada.

Um serial killer acaba surgindo em uma noite, com o corpo de uma amiga vizinha da protagonista. Ao perceber que ela era surda e muda, passa a fazer um jogo psicológico com a vítima, pelo prazer de matá-la quando fosse a hora. E o filme vira uma verdadeira tensão a todo minuto. 

O filme está disponível na Netflix, e dessa vez prometo que não vai se arrepender que nem The Silence

O serial killer do filme

Sinopse: A autora Maddie Toung (Kate Siegel) vive uma vida isolada desde que perdeu sua audição e cordas vocais quando era adolescente, se colando em um mundo de total silêncio. Porém, quando um rosto mascarado de um assassino psicótico aparece em sua janela, Maddie precisa ir além dos seus limites físicos e mentais para conseguir sobreviver.

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