O Studio Ghibli é o estúdio de filmes animados mais conhecido do Japão e possui uma cartela de filmes imensa. É tanto filme que às vezes a gente esquece aqueles mais antigos ou mais alternativos. Acredito que esse seja o caso de Sussurros do Coração, Mimi wo Sumaseba no original. 

Sussurros do Coração foi lançado no Japão em 1995, mas veio ao Brasil apenas em 1997. A história é muito simples, e acho que é isso que mais me cativou no filme inteiro. Estamos acostumados a ver animes que se passam no colegial no Japão, com jovens decidindo sobre a vida, romance e como viver em sociedade. E Sussurros do Coração não é muito diferente disso. 

Dirigido por Yoshifumi Kondô e escrito por Hayao Miyazaki, Sussurros do Coração é uma mistura de romance e slice of life. Para quem gostou muito de Kimi no na wa, por exemplo, deve adorar esse filme do Studio Ghibli. Eu, particularmente, gosto mais de Sussurros, inclusive.

A premissa do filme é de uma menina do colegial que ama ler livros, e portanto está sempre pela biblioteca escolhendo novas leituras. Acontece que todos os livros que ela pega para ler, coincidentemente, um garoto previamente já leu os mesmos livros. E assim começa sua jornada para descobrir quem foi o garoto e esbarra em uma loja de antiguidades. 

A história é uma adaptação de mangá do mesmo nome, de 1989, criado por Aoi Hiiragi (que também fez Reino dos Gatos – Neko no Ongaeshi). 

Os destaques do filme

A gente tá acostumado a ver filmes do Studio Ghibli protagonizados por mulheres, e a construção de muitas delas é digna de palmas e aplausos ininterruptos. A Delirium Nerd chegou a fazer um texto muito esclarecedor sobre as mais diferentes heroínas do Studio Ghibli, reforçando ainda mais essa tradição do estúdio de criar personagens femininas carismáticas, sem apelo sexual e com muita aproximação da nossa realidade.

Em Sussurros do Coração, Shizuku Tsukishima é uma das adolescentes mais carismáticas que pude ver em uma animação japonesa. Ao contrário de filmes mais fantasiosos, como é A Viagem de Chihiro ou Nausicaä do Vale do Vento, Sussurro do Coração é totalmente inspirado no Japão da década de 1990, e os personagens também. 

Como não existe fantasia, todo o destaque do filme vai para o carisma da Shizuku e do outro protagonista, Seiji. Quando Shizuku passa a frequentar a loja de antiguidades, ela conhece Seiji, um aspirante à violinista e que quer sair do país por uma bolsa de estudos em um importante instituto de música. 

Seiji e Shizuku na loja de antiguidades

A partir disso ela mesma começa a questionar seu futuro, o que poderia fazer para sair da sua zona de conforto e como mostrar à Seiji e a si mesma de que é capaz. Todo esse sentimento é simplesmente retratado de forma brilhante durante o filme, o que faz qualquer mulher se apegar facilmente por Shizuku

O mais incrível é que o relacionamento entre os dois jovens é extremamente saudável, não há rivalidade e nem a demonstração de Seiji de querer ser superior ou se mostrar superior. O romance entre eles é desenvolvido de forma leve, natural e muito bonito. 

Porém, mesmo que o filme tenha romance, o foco é no crescimento de Shizuku, que se questiona, que procura encontrar seu espaço na sociedade e têm medos de não realizar seus objetivos. É como a gente conversar com qualquer garota do colegial preocupada com o vestibular, por exemplo.

O exemplo de ótimo desenvolvimento feminino não se resume à Shizuku. Sua mãe, depois de dar a luz a duas filhas, já com uma idade mais avançada (em torno de 40 anos), está se capacitando mais profissionalmente, voltando aos estudos. Sua irmã mais velha, terminou a faculdade e está em busca de ter sua casa própria e dá grandes conselhos para Shikuzu

A jornada do filme é mostrar como Shizuku define seus objetivos e como vai conquistá-los. Não posso dizer exatamente qual o maior objetivo, mas é tudo feito com muito esmero. 

O grande easter egg

Eu já expliquei que a autora do mangá de Mimi wa Sumaseba também escreveu Neko no Ongaeshi. Reino dos Gatos foi feito apenas em 2002 pelo Studio Ghibli (outro filme adorável), mas já em Sussurros do Coração temos alguns easter eggs relacionados ao filme dos gatos. 

Baron Humbert von Gikkingen

Muta e Baron são estátuas da loja de antiguidades, e são muito importantes para a história de Sussurros do Coração. A ligação entre os personagens de um filme e outro faz tudo ficar mais incrível. O legal é ver primeiro Reino dos Gatos e depois Sussurros do Coração, mesmo que o Baron tenha aparecido primeiro em Sussurros

Quando reconheci os personagens eu dei um grito de felicidade! Até rolou aquela vontade de ter um universo único de alguns filmes do Studio Ghibli

Mas é isso, minha gente. Os filmes do Studio Ghibli são sempre ótimos, mas Sussurros do Coração está entre meus favoritos e merecia mais atenção! 

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