Diante do aumento de casos de depressão e ansiedade no mundo inteiro é natural que o universo dos mangás não deixasse tal tema de lado. Com isso, resolvi listar alguns mangás que já li e que abordam esse tema. Cada história retrata o assunto de forma diferente, o que nos faz refletir e entender um pouco mais sobre essa doença. 

Antes de adentrar totalmente nas indicações, é interessante que saibamos alguns dados sobre depressão e ansiedade no mundo. De acordo com o relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) denominado “Depressão e outros distúrbios mentais comuns: estimativas globais de saúde”, apenas no Brasil há cerca de 11,5 milhões de pessoas depressivas, maior número da América Latina

O mesmo relatório, lançado em 2017, constatou um aumento de 18% no número de pessoas que vivem com depressão a nível mundial entre 2005 e 2015. São 322 milhões de pessoas em todo o mundo que vivem com este transtorno mental, sendo a maioria mulheres. Quando falamos de ansiedade, os números são maiores. Apenas no Brasil, os casos relacionados à ansiedade afetam mais de 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população).

A falta de empatia e de informações sobre esses dois distúrbios podem ocasionar em problemas ainda maiores, como síndrome do pânico e pensamentos suicidas, chegando a casos em que realmente a pessoa opta pelo suicídio. 

A importância de indicar mangás temáticos sobre depressão

Apesar do aumento pela procura por ajuda, ainda há preconceitos na sociedade com esses transtornos mentais, inibindo que procurem por um tratamento. Segundo a OMS, menos da metade dos afetados no mundo (em muitos países, menos de 10%) recebe tratamento. Em um cenário desolador como esse, muitas vezes o entretenimento e a cultura pop podem ser grandes articuladores para informar e conscientizar a população. 

Como sabemos, o Japão é um dos maiores mercados de quadrinhos do mundo, batendo de frente com grandes expoentes, como Estados Unidos e França, por exemplo. E o mesmo Japão ainda possui alguns problemas com depressão e suicídio de seus habitantes. 

Apesar da redução da taxa de suicídio em números gerais, contando com todas as faixas etárias, a preocupação está no grupo de adolescentes do Ensino Médio. Nos últimos 15 anos, o país asiático conseguiu reduzir a taxa de suicídios geral em um terço. O número anterior de 34,5 mil casos em 2003 caiu para 21 mil em 2017. Essa queda se deu por uma série de medidas preventivas que foram incentivadas, segundo informações da OMS

Porém, os casos entre os jovens apenas aumentaram: o suicídio permanece como a principal causa de morte. Entre abril de 2016 e março de 2017, 250 estudantes da escola primária até o Ensino Médio tiraram suas vidas. É o maior número registrado desde 1986 – e cinco vezes maior que o registrado um ano antes. 

É claro que esse número de suicídios nem sempre está associado à depressão, porém o sentimento de solidão é um dos mais presentes entre os jovens. Há certos tipos de sentimentos que relacionam diretamente a depressão com o suicídio, entre eles está a solidão. Enfim, deu pra perceber que esse problema é global e criar ações afirmativas e preventivas é importante em qualquer país e sociedade, certo? 

Por isso, vamos aos mangás que abordam um pouco as facetas da depressão, e de uma forma ou outra podem ajudar a quem possui a doença se identificar e procurar ajuda, assim como auxiliar quem não tem a doença a apoiar uma pessoa próxima. Entre os mangás citados, alguns já foram lançados no Brasil, mas alguns ainda não, então vou especificar certinho cada um, okay? 

Orange 

O mangá foi publicado um pouco na revista Bessatsu Margaret (Shueisha) e finalizado na Manga Action (Futabasha), de autoria de Ichigo Takano, com 5 volumes (há mais dois volumes extras). Lançado no Brasil pela JBC, é uma história encantadora sobre a superação da depressão com ajuda de amigos e da pessoa amada. 

Sinopse: Takamiya Naho tinha acabado de fazer 16 anos na primavera, e recebeu uma estranha e detalhada carta de si mesma, mas de 10 anos no futuro. Primeiramente ela achou que a carta era uma brincadeira de mau gosto, mas depois que algumas coisas contidas na carta realmente aconteceram, incluindo um novo estudante transferido que sentou exatamente em sua frente na classe: Naruse Kakeru, passou a acreditar nas cartas. 

Após observar que a carta continha algumas coisas semelhantes que seu diário, exatamente com os mesmos inscritos, Naho passa a acreditar mais nessa loucura de estar recebendo avisos de seu eu do futuro. Na intenção de consertar um grande arrependimento, Naho do futuro pede à Naho do passado ficar de olho no Kakeru de perto. 

É possível ver na história que Kakeru tem diversas demonstrações de isolamento, tristeza constante e guarda para si diversos sentimentos. A autora trabalha a história para nos fazer refletir que podemos ajudar o próximo, mesmo que ele crie barreiras, sem desistir da pessoa. 

Eu não posso contar toda a história para vocês, mas o grande ensinamento é: nós não temos segunda chance na realidade, então não podemos ter tantas dúvidas e deixar uma pessoa próxima definhar sozinha sem nenhum apoio. Então, ajude, tente fazer diferente para não ter arrependimentos no futuro. 

Uma observação interessante sobre Orange é que ele foi nomeado para o 20th Tezuka Osamu Central Prize em 2016, um dos prêmios de prestígio no mercado japonês. 

Pietà (aviso de gatilho) 

Mangá publicado por Nanae Haruno ainda em 1999, na revista Young You (Shueisha). É um josei dramático, que pode mexer com o psicológico de quem está depressivo, pois os diálogos e o desenvolvimento da história são muito reais para quem convive com a doença. No entanto, a história é bem curta: apenas 2 volumes. 

Ainda não foi lançado no Brasil, mas também não é um mangá famoso ou de grande repercussão no Japão. Porém, quando o assunto é depressão, esse mangá é uma ótima indicação. Além disso, tem representatividade: a protagonista é lésbica.

Rio é a protagonista da história, e possui depressão desde criança. Os 2 volumes mostram a tentativa dela vencer a doença e ter qualidade de vida.

Sinopse: Pietà conta a história de duas colegas de classe no Ensino Médio, Sahoko e Rio. Rio é depressiva e se auto mutila constantemente desde pequena, e tem sérios problemas em sua relação sentimental com sua “família” – que consiste em um pai negligente e arrogante, e uma madrasta egoísta, que não gosta que Rio chegue perto de seu filho. Nesse cenário, Rio encontra o único conforto em sua vida quando está com Sahoko. 

A Cidade da Luz

Na verdade qualquer mangá de Inio Asano poderia ser recomendado nesse texto, mas creio que “A Cidade da Luz” levanta o tema com mais solidez. Alguns podem perguntar porque “Boa Noite, Punpun“ – do mesmo autor – não foi priorizado, mas a resposta é mais simples: eu não consegui terminar de ler ainda, então é mais difícil de indicar com precisão. 

O mangá de volume único foi lançado no Japão em 2004, mas por aqui chegou em 2017 pela Panini. Apesar de um único volume, o mangá continuamente nos faz pensar no valor da vida. Apesar do mangá focar na vida de três personagens em específico, tudo que os permeia são: suicídio e morte, em um bairro conhecido por ser uma referência de “sucesso de vida”. 

Isto aqui é o início do mangá.

Sinopse: O Sol nasce e entra na Cidade da Luz, como diversas histórias não resolvidas: luz, trevas e dificuldades. Uma história de pessoas que você certamente reviraria os olhos de aversão. Ainda, é o mais próximo da realidade, então talvez esta seja a verdadeira humanidade. 

Como um antigo vínculo entre um menino e uma menina, nasce uma amizade entre garotas que raramente falam umas com as outras. E um homem que suja sua mão por dinheiro, e uma namorada que o espera voltar para casa. 

Bem…é bem Inio Asano mesmo a sinopse, não é? Mas o mangá é recheado de tragédias relacionadas a um “mercado” de suicídios. Sim, isso mesmo, as pessoas que querem se matar podem ligar para uma pessoa e receber um incentivo e conforto poucos minutos antes de cometer suicídio. E uma criança está nesse mercado por “vontade própria”, sendo quem conforta as pessoas antes de se suicidarem. 

A Voz do Silêncio (Koe no Katachi)

Um dos mangás mais importantes dessa última década quando falamos de bullying e depressão, finalizado com 7 volumes e lançado no Brasil pela New Pop, A Voz do Silêncio conta a história de uma garota surda chamada Nishimiya Shouko tentando se adaptar em uma escola comum no ginasial.

Sinopse: A história permeia a vida de Nishimiya Shouka, uma estudante do ginasial que possui deficiência auditiva. Ela se transfere para uma nova escola e é atingida por uma série de bullying por seus colegas de classe, especialmente um garoto chamado Shouya. Chega a um ponto da história em que Nishimiya precisa ser transferida para outra escola e como resultado, Shoya leva toda a culpa e começa a ser o foco de agressão e bullying. Com isso, Shoya se isola completamente, banindo as pessoas ao seu redor, sem conversar com ninguém e sem nenhum planejamento pro futuro. Anos depois, ele se vê em uma espécie de jornada de redenção. 

Koe no Katachi ganhou o 19th Tezuka Osamu Cultural Award New Artist Prize em 2015 e também o Ogaki City Cultural Alliance Award (Divisão cultural do prêmio). Além disso, foi uma das nominações da categoria de “Melhor Edição Norte Americana de Material Internacional no Eisner Awards de 2016. 

Apesar da sinopse não ter um indício claro de depressão, no decorrer da história vemos como a depressão está presente mesmo que não percebemos bem. As angústias familiares, de não aceitação própria e rejeição por parte da sociedade pode nos causar tão mal a ponto de nos vermos sem saída a não ser se isolar ou tirar a própria vida. 

Tudo em A Voz do Silêncio é feito com muita responsabilidade e coragem, não à toa recebeu todos os merecidos prêmios no mundo inteiro. Fora o mangá já finalizado no Brasil, há um longa metragem resumindo toda a história original de forma muito dedicada e bonita, vale a pena procurar pra ver. 

Minha experiência lésbica com a solidão (My Lesbian Experience with Loneliness)

O nome já diz tudo, não é mesmo? Um mangá bem pesado psicologicamente, pois, apesar do Japão não ser um país violento fisicamente, ele pode e muito ser psicologicamente. A cobrança para uma mulher se casar e ter filhos, ser bem sucedida e outras pressões sociais podem ser um tanto incômodo para quem não está dentro dos padrões impostos pela sociedade. 

E “Minha experiência lésbica com a solidão” se trata exatamente disso. Uma mulher que se entende lésbica, mas que possui transtornos sérios, como ansiedade e depressão, tenta basicamente viver. O mangá tem apenas um volume e será lançado no Brasil pela NewPop ainda em 2019 (se tudo der certo haha). 

Sinopse: O mangá é uma compilação de uma história originalmente lançada na plataforma Pixiv, voltada para artistas amadores/profissionais do Japão. É uma autobiografia da autora que tem inspiração em se tornar uma mangaká: uma mulher de 28 anos que largou a faculdade, o que a fez se sentir extremamente solitária, com uma vida extremamente vazia e que nunca fez sexo, ou mesmo se permitiu a pensar em sexo fora as suas leituras de Boys Love.  

Por muitos anos ela passou por momentos de autodestruição, até ela perceber que ela precisa começar a viver de verdade antes que seja tarde demais. E, então em um impulso, ela resolve solicitar um serviço de acompanhante sexual, especificamente uma mulher. 

Em 2017, a história ganhou o prêmio de “Mangá do Ano” pelo The Anime Awards, e figurou entre as várias listas sobre obras com temática LGBT durante os anos de 2016 e 2017. Por conta disso, a história ganhou uma continuação denominada “My Solo Exchange Diary”, mas que não foi confirmada no Brasil ainda. 

My Unrequited Love

Conhecido pelo nome original “Tatoe Todokanu Ito da to Shite mo”, mas difícil de ser pronunciado por nós, My Unrequited Love pode ser adaptado para português como: Meu Amor Não-correspondido”. Ainda em andamento no Japão e contando com 5 volumes até então, a história foca em uma protagonista do Ensino Médio apaixonada pela sua cunhada, mas que as adversidades da vida fizeram com que ela tivesse que morar com ela e seu irmão. 

Sinopse: Uta, uma garota adolescente mora com seu irmão mais velho Reiichi e sua esposa Kaoru, experienciando sentimentos bem turbulentos e não-correspondidos após perceber que está apaixonada por Kaoru. Mesmo depois consultando seus amigos várias vezes, Uta simplesmente não consegue tirar Kaoru de sua cabeça e as consequências que esses sentimentos podem levar seu relacionamento com Kaoru diretamente para um caminho nebuloso. 

My Unrequited Love é um dos mangás de maior sucesso hoje na Yuri Hime!

Ao contrário de pensar que a história quer fazer com que a Uta tenha um final feliz e que está tudo certo amar a cunhada, My Unrequited Love é um soco no estômago a cada capítulo. Uta guarda uma grande angústia por se ver apaixonada por alguém que ela não pode se declarar, e toda essa angústia a consome mentalmente dia após dia, o que a faz se sentir solitária, triste, amargurada o tempo inteiro. 

Não apenas a Uta, no decorrer da história percebemos que Kaoru também tem um passado nebuloso e tem um medo real de estar sozinha, de não ser amada, como se fosse um trauma. Tanto Uta quanto Kaoru demonstram constantemente passarem por transtornos de ansiedade e solidão e até então não sabemos como toda essa situação pode ser resolvida.

O mangá ainda não foi lançado no Brasil, mas já teve anúncio de ser lançado nos EUA, pela Kodansha, ainda em 2019 com o nome de If I Could Reach You. É uma ótima história para ter uma adaptação em anime e ser lançada no Brasil pela NewPop

E aí, conhece algum dos títulos mencionados? Quais outras histórias podem ser adicionadas nessa lista? Comente e compartilhe sua opinião conosco. Alguns mangás já lançados no Brasil podem ser adquiridos através do acesso de nossos links da Amazon

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