Pode parecer redundante fazer um conteúdo como esse após criar um texto sobre outras lojas além da Amazon que vendem mangás, mas, tudo referente à Editora Panini Comics é uma dificuldade a mais para conseguir fechar uma coleção. Por isso, é extremamente válido tentar criar um texto próprio e voltado apenas para os anseios de fãs e consumidores de obras maiores e famosas. 

Antes de mais nada, a Panini ainda é a maior editora de quadrinhos do país. Gostem ou não dessa realidade, obras mais famosas e mais caras normalmente têm os direitos comprados pela gigante italiana. Nos mangás a rivalidade é até justa com a editora JBC, que tem em seu catálogo grandes obras como Fairy Tail, Akira e Boku no Hero Academia

No entanto, a Panini ainda fica com a maioria dos grandes títulos da Kodansha, Shueisha e Shogakukan (as editoras mais conhecidas e que exportam mais obras). E quando digo a maioria, quer dizer obras de todas as demografias. Além de ter One Piece, Kimetsu no Yaiba, The Promised Neverland, Berserk, Attack on Titan etc, a Panini também tem obras aclamadas e já finalizadas. 

Attack on titan volume 22 cover. Armin finally got to see the ...
Ataque dos Titãs tá chegando ao fim e, se você gosta da obra, tem que correr pra comprar senão não acha mais.

Nesse montante entra Slam Dunk, Monster, 20th Century Boys, Assassination Classroom, Beelzebub, Kimi ni Todoke, Aoharaido, Lovely Complex e até obras antigas e clássicas, como Lobo Solitário. É muito difícil competir com um catálogo tão forte assim, e por isso boa parte dos consumidores procuram pelos produtos da editora. 

Mas, por trás dessa procura toda há um problema real de conseguir acompanhar e terminar as coleções que a Editora Panini lança. 

O real problema de colecionar obras da Panini

Ao contrário das editoras menores, como a JBC, NewPOP, Devir e Pipoca e Nanquim, a Panini trabalha com tiragens maiores. Isso quer dizer que graficamente a editora procura acumular uma leva grande de impressões para ir ao mercado. Resumindo: não é comum que a editora tenha uma política de tiragens menores e pontuais para abastecer estoques de lojas especializadas. 

E qual o reflexo desse tipo de escolha editorial no mercado? Após a primeira tiragem de um volume de mangá, a Panini demora para preencher novamente o estoque, causando uma escassez grande após um tempo que o volume foi publicado. É assim que edições específicas simplesmente somem do mercado, como aconteceu com Berserk 13, Claymore 16, Kimi ni Todoke 24 e 26 – nesse caso ainda acontece -, Assassination Classroom 19, entre tantos outros volumes. 

Berserk 13! Mangá Panini! Lacrado! Relançamento! - R$ 18,90 em ...
Talvez pelo conteúdo da capa, a edição esgotou bem mais rápido. E essa parte da história também é a mais comentada na Internet

Ao contrário das primeiras edições serem mais raras e difíceis de encontrar, edições do meio da coleção se esgotam e ficam raras, dificultando MUITO mais para que um consumidor termine sua coleção. Imagina, ter 15 edições, faltar a 16 e aí a obra termina no 27. Você vai ter todas as edições e vai faltar uma edição 16, no meio de uma saga aleatória.

Essa realidade desestimula e muito que um fã de mangás comece sua coleção. E por quê?

Com os mangás da Panini, basicamente, você tem que comprar quando a editora lança a edição, colecionando a obra de acordo com sua periodicidade. Acontece que no mercado não existe uma unanimidade em que os fãs compram assim que as obras são lançadas. 

O consumo de mangás no Brasil

Aqui no Chimichangas já tentamos explicar um pouco como que o mercado de mangás funciona em vários textos. Resumidamente, o mercado melhorou bastante na última década, com a vinda de obras mais alternativas, e mais diversidade de tipos de materiais: há materiais mais luxuosos, capas mais estilizadas, extras que antes não tinham, entre outros mimos. 

Porém, ele melhorou em qualidade gráfica, não em preço. Ainda levando em consideração a realidade cultural e de consumo de literatura no Brasil, mangás modelo (papel off white e capa cartão, lombada quadrada) não são tão caros assim. Mas não é um preço acessível, ficando entre R$22 e R$25

Assim sendo, o mangá ainda é um produto extremamente nichado, acessível a uma cadeia pequena de consumidores. Imaginem que vender 10 mil cópias de um mangá comum é um feito e tanto no Brasil. Apenas obras como Dragon Ball e Naruto chegaram a vender bem mais que esse número, mas são exceções. 

Fases do protagonista Naruto no mangá
Naruto é com certeza o maior sucesso no mercado de mangás. Teve reimpressões e 3 republicações: edição normal, pocket e a Gold

Portanto, há muito comprador interessado em descontos, esperando a hora certa de colecionar. São descontos na Amazon, compras em livrarias e lojas online em pacote que dá frete grátis e mais condições de parcelamento, entre outros casos. Sem contar que há consumidores que conhecem uma obra após 1 ou 2 anos que ela terminou. Mas se essa coleção for da Panini, a chance desse consumidor encontrar todas as edições é pequena. 

A resposta óbvia é que com os mangás da Panini quase não tem como manter outros métodos de compra que não seja o periódico. É uma realidade totalmente imediatista. 

Outros problemas da Editora Panini

Mas, a dificuldade de manter os estoques de mangás abastecidos é bem maior do que uma simples política editorial. Não é só uma escolha da Panini que faz essa realidade ser tão complicada. 

Ainda há no Brasil uma dificuldade imensa de saber o tamanho do mercado consumidor. Livros best-sellers é muito mais fácil de ter uma noção da demanda, já que o apelo comercial é maior. Como os mangás fazem parte de um mercado nichado, é difícil prever a quantidade de tiragem por volume.

É normal que as primeiras edições vendem mais, pois a história é uma novidade. A comunidade também trabalha o hype e a divulgação das obras. Só que essa realidade muda após algumas edições. 

Realidade hipotética aqui, para ser mais fácil de explicar: se o 1º volume teve uma tiragem de 5 mil e esgotou, a Panini normalmente repõe mais uma tiragem completa, para abastecer o estoque. Mas dificilmente ela fará isso para uma edição 29, porque nem a primeira tiragem desse volume foi 5 mil cópias, entendeu? 

Em casos como Berserk 13, foram muitos meses de pedidos e solicitações da comunidade para que a edição fosse reimpressa. Apenas ao ver a quantidade de reclamações que a Panini conseguiu mensurar a necessidade de repor o estoque. Obras mais alternativas e menos vendidas não recebem esse apelo (um exemplo é One Week Friends). 

A falta de informação no site

E para piorar a situação, obras mais antigas sequer aparecem no site da Panini na busca. É como se algumas obras nunca tivessem sido lançadas. Pra mim, pessoalmente, esse é o maior problema de tudo: como você vai buscar obras mais antigas se elas nem aparecem no site da editora? Se você começou a colecionar mangás há pouco tempo, não vai saber quais obras já saíram aqui no país.

Trigun foi um anime que passou no Brasil na TV aberta, teve dublagem, foi comentado, mas hoje a Panini faz de conta que nunca lançou a história.

Então, o que fazer?

Há algumas formas de melhorar essa realidade, mas nenhuma delas é tão rápida e simples de fazer acontecer. Já explicamos como que a Panini lidou com as crises editoriais dos últimos anos (falência da Saraiva, Livraria Cultura, mudança na distribuição de mangás nas bancas de jornal etc), mas é sempre bom lembrar: 

  • O site da Panini era muito mais bagunçado antigamente, hoje a loja é mais intuitiva e tem um estoque maior. O filtro de busca também é melhor. 
  • O SAC da Panini melhorou, apesar dos problemas e da desorganização ainda presentes. As compras na loja são mais confiáveis, já que o registro de acompanhamento fica mais claro e o comprador é sempre notificado.
  • De um tempo pra cá a comunicação da editora com os fornecedores melhorou muito, o que ajudou a repor estoques gerais de várias lojas. 

Mesmo com essas melhorias, ainda há trabalhos extremamente necessários no site da editora. O site é composto basicamente de uma loja online, assim como é a Comix Book Shop, Capitão Onigiri ou a Geek Point. Acontece que a Panini não é uma simples loja que vende mangás. Ela é uma editora completa. 

O site não tem um espaço da editora que fala sobre si mesma. Não há nada sobre os setores que formam a empresa, quando ela surgiu no Brasil, sua trajetória até aqui, os mangás e quadrinhos que abriram as portas para a editora, os seus maiores sucessos etc. O catálogo do site é uma vergonha, porque eles entendem que o catálogo é a mesma coisa que checklist mensal (e veja só, não é)

O site não tem uma área que indica quais mangás são digitais e podem ser encontrados no Kindle, Kobo e nos smartphones. Sequer explicam como ler digitalmente. Há obras completas, como Ore Monogatari, que estão completas para ler no digital, e são mais em conta do que as edições físicas, mas no geral ninguém sabe que essa mídia existe.

É uma falta de noção de marketing brutal. Isso dificulta muito para que fãs mais novos (não de idade, mas de conhecimento do material) conheçam obras da editora e procurem por coleções mais antigas. O setor é um nicho, então, quanto mais informação, melhor. Quanto mais fácil e acessível for a empresa com a comunidade, melhor será. 

Tentativas da Editora Panini

Não quer dizer que a Panini não tenta. Ela sempre está nos principais eventos de literatura e cultura japonesa do país, tenta dar um suporte a influenciadores, mas todo o contato com a editora é por meios muito internos que um consumidor comum não conhece. Por exemplo, a editora patrocinou o Anime Awards BR promovido pelo Anime Crazies em parceria com o Bunka Pop

Mas quem trabalha no Bunka e no Anime Crazies estão respirando o mercado de quadrinhos há anos. Eles sabem onde ir e com quem conversar. Não é um parâmetro bom para usar de modelo. Ainda mais porque o mercado está no Brasil inteiro. Um consumidor que mora fora da cidade de São Paulo não tem nem 1% dessa abertura com a empresa. 

Além disso, a editora, depois de deixar suas redes sociais às moscas por muitos meses, está tentando voltar pelo Instagram. Mas é péssima a gestão de redes sociais. O Twitter é o canal mais fácil de atualizar a comunidade com notícias e lembretes rápidos de andamento de obras, mas é a rede que a editora menos se importa. 

O papel da comunidade consumidora

Ao ver esses problemas, cabe ao mercado consumidor cobrar melhorias, cobrar transparência e comunicação. E chega a ser patético termos que ir cobrar para os editores (que trabalham na adaptação do trabalho original para o português) fazerem algo e não para os setores de comunicação e marketing da empresa. 

É terrível termos que cobrar Levi Trindade, Leonardo Kitsune ou Beth Kodama sobre novidades e atualizações de certos assuntos. Eles mexem com o material editado, não deveria ser o papel deles fazer a comunicação. Até porque eles não sabem mesmo detalhes sobre várias coisas, como assinaturas, número de tiragem, distribuição, acesso dos fornecedores com a logística da Panini etc. 

Mesa redonda com os editores de mangás que aconteceu na Japan House, em São Paulo. Da esquerda para direita: Levi Trindade, Junior Fonseca (NewPop), Marcelo Del Greco (JBC) e Bruno Zago (Pipoca e Nanquim). Créditos: Mais de Oito Mil

Nós, como consumidores, temos que parar de cobrar novos lançamentos, e pedir ajustes e soluções para o que anda errado há muitos anos. Com essa união e cobrança, a própria editora vai entender que deixar edições do meio da coleção em falta é um tiro no pé. É preciso prever falta de estoque de algumas obras, é preciso planejar para ter um estoque mínimo guardado para distribuir depois de alguns meses. 

Se a JBC e a NewPOP conseguem entender melhor seus próprios estoques e manter coleções vivas após muitos anos, a Panini, que vende bem mais mangá, deveria sentar e recriar todo seu setor de marketing de dados e comunicação para que esse problema seja minimizado. 

Porque a resposta para a pergunta do título é simples: não tem como colecionar mangás antigos se não há volumes suficientes no mercado. E antigos não quer dizer mangás de 2006, lá nos primórdios da editora. Estamos falando de mangás já em tanko inteiro, que foram da Jump, que tiveram anime ou que ainda são lembrados, como:

  • Trigun, 
  • Claymore, 
  • Honey&Clover, 
  • KareKano, 
  • Samurai Champloo
  • Basilisk
  • Deadman Wonderland
  • Eureka Seven
  • Elfen Lied (essa merda falam até hoje e pra Panini isso é igual a nada)
  • Vampire Knight clássico
Claymore é o mangá mais injustiçado dessa leva toda. /esse é meu jargão, já defendi muito a história aqui no Chimichangas haha

Nenhum desses tem sequer um estoque mínimo da própria Panini. Eles não tem uma edição de nada disso e fica na mão de revendedores, como Rika, Amora Book Store e Capitão Onigiri com coleções usadas, de tentar mitigar o problema. Mangás ainda em andamento temos um mínimo de esperança da Panini resolver o problema de estoque, mas quando a obra termina, se torna um pesadelo fechar uma coleção. Essa é a conclusão final.

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