O brasileiro gosta de nerdice, não à toa, os números de espectadores de grandes filmes de super-heróis no Brasil são muito importantes. Quando falamos de quadrinhos, o público muda um pouco, e se torna menor. Quando falamos de mangá, o público é ainda mais nichado, pois quem lê HQ nem sempre gosta de ler mangá. 

Recentemente, na palestra das editoras de mangá na Japan House, um dos discursos da mesa foi do que é considerado sucesso de vendas. Hoje, segundo Marcelo Del Greco, se um mangá vende 5 mil unidades, já pode ser considerado um sucesso aqui no Brasil. Ele explicou que antigamente esse número era maior, mas está cada vez mais difícil vender mangá no Brasil.

Pois bem, é importante a gente lembrar que um mangá no início de 2001 custava R$2,90, com um papel absurdamente inferior, e ainda era meio tanko (metade do original japonês). Muita coisa mudou, e hoje, com a produtividade do trabalhador mais baixa, o Brasil vem enfrentando dificuldades para ter um poder de consumo latente. O que isso significa?

Eu tenho essa coleção meio tanko até hoje.

O brasileiro está cada vez mais na informalidade, e por vezes isso precariza o trabalho, extinguindo benefícios e condições de poupar e consumir aquilo que ele consumia em uma melhor época de empregos e estabilidade econômica. Assim, o que se encontra é a compra de itens de extrema necessidade.

Mangás não são extrema necessidade. Atualmente, nem o cinema tem se tornado tão democrático quanto se imagina – não à toa a redação do Enem foi justamente sobre isso, pois ainda há muito o que fazer no assunto. É natural que o número de vendas diminua em uma situação como a nossa. 

E ainda há uma outra questão: a alta do dólar. 

Nesse fim de ano, vimos a maior alta histórica do dólar, chegando a R$4,20 (bem irônico, não é?). Os contratos são feitos, em sua maioria, levando em consideração esse câmbio, portanto também está tudo mais caro para as editoras bancarem os direitos de cada mangá. Os mangás ficaram mais caros justamente por conta de toda essa condição do Brasil nos últimos anos (principalmente de 2015 para cá).

Onde quero chegar nesse assunto todo? A realidade de hoje é completamente diferente de 15 anos atrás. Além dos mangás físicos, temos os mangás digitais e as facilidades de ter mangás importados. E é aí que entra o tema deste texto: há plataformas de quadrinhos que vendem mangás online, a preços um pouco mais tranquilos e, por vezes, de graça.  

Há quem se interessa por mangá online hoje?

Temos um acesso absurdamente facilitado da pirataria. Às vezes nos deparamos entrando em sites piratas primeiro do que nos informando para saber se há uma forma oficial e acessível para consumir esse mangá. Então, sim, há muito interesse por leitura online, mas não há o estímulo para lermos oficialmente.

Isso também tem muito a ver com a nossa cultura de consumir pirataria, que é bem estimulado por aqui desde a década de 1990 (quando a Internet passou a existir mais no Brasil). E por quê? Bem, esse tema rende um livro, de verdade. Basicamente, nosso acesso à cultura sempre foi problemático. 

As maiores exposições acontecem em SP. Esse aconteceu no Museu da Imagem e Som, na zona nobre da cidade.

Países bem desenvolvidos (e é bom lembrar que NÃO somos bem desenvolvidos), a cultura está presente o tempo todo, seja nas produções de cultura, quanto de acessibilidade dela. No Brasil, tirando grandes capitais, a cultura é muito negligenciada. E cultura é um termo amplo. Vai desde shows, cinema, eventos culturais, bibliotecas, teatro, quadrinhos, apoio à leitura e muito mais.

Esse costume de consumirmos pirataria tem muito a ver com o acesso à cultura que nos é dado. E quando a gente se acostuma com um hábito, desconstruir isso não é muito fácil. Imagina, ter uma mostra cultural de graça? Ter um ingresso de cinema custando R$5? Ter livraria na sua cidade? Isso é raro no Brasil

Todos os acessos à cultura estão absurdamente centralizados em Rio-São Paulo, com presença do Rio Grande do Sul (Porto Alegre), Bahia (Salvador), Minas Gerais (Belo Horizonte) e Amazonas (Manaus) de vez em quando, mas sendo bem mais minoritários. Isso cria um problema em todas as frentes imagináveis. Se encontramos cultura apenas em capitais (e só em grandes capitais), como criar o hábito de comprar cultura nas pessoas? 

Vamos fazer uma situação hipotética (que é a realidade de muitas cidades no Brasil): se uma cidade não tem uma biblioteca bem equipada e que de fato ajuda a população, como esperar que tenha livrarias, lojas especializadas e bancas de jornal interessadas em vender mangá e quadrinhos no geral? Se não há o básico para estimular a leitura, como vender leitura? 

Um mangá físico hoje está custando, na faixa mais baixa, cerca de R$18. Já falamos um pouco sobre a crise das editoras aqui no Chimichangas, mas nos últimos anos, tivemos problemas crônicos de distribuição, logo, nem todas as regiões souberam da existência de mangás (!!). No entanto, o crescimento do acesso à Internet cresceu muito no Brasil nas últimas 2 décadas, mas principalmente nos smartphones, com o 4G

Isso significa que o brasileiro acessa a Internet pelo celular, logo, o acesso aos sites piratas para ler mangá tá aí também muito presente. É de Union Mangás à Manga Rock, até links piratas do Imgur. O acesso à pirataria É MUITO simples e fácil para que tem 4G. É muito mais fácil do que conhecer as plataformas oficiais. E elas existem. E não são poucas.

As plataformas oficiais de mangá online 

Antes de mais nada, o Brasil está muito atrás nesse sentido, com as editoras apenas deixando na vontade do nosso imaginário. NewPop, por exemplo, criou sua loja online, mas ainda não vende mangás digitais, imagina ter um aplicativo próprio para lermos seus mangás como lemos capítulos piratas?

Isso também ocorre com a JBC, que em termos de tamanho, é ainda uma empresa pequena. Quem teria condições de investir em uma plataforma do tipo seria a Panini, mas ela mal sabe lançar um checklist mensal dos mangás lançados, quanto mais propor uma plataforma de mangá online.

Além disso, as licenças de mangás online (em uma plataforma totalmente online, sem necessidade de download), digitais e físicos são diferentes. O que torna um tanto inacessível para as editoras bancarem tantas licenças assim, ainda mais convencer os japoneses de lançar tantos formatos. 

A leitura de um clássico como FMA ainda só é possível pelo meio físico no Brasil.

Para piorar, nenhuma grande livraria no Brasil possui um aplicativo fácil de leitura, o que recai muito para os e-readers, como Kindle e o Kobo. Apesar de não ser necessário comprar um Kindle, basta baixar os aplicativos nos celulares, o acesso aos mangás digitais ainda está bem no início e não é o mais popular possível. (aqui vale entrar na Google Play para ver o catálogo)

Viram? O problema é grande, e essa morosidade de resultados faz a pirataria crescer ainda mais. Mesmo assim, no Brasil temos uma opção viável. E ela se chama Social Comics. Não existe apenas ela, porém as outras plataformas requer duas habilidades a mais: saber inglês e ter um cartão internacional. 

Social Comics

Nele é possível ler os mangás da Draco e Gen, Pés Descalços, por exemplo

Além de mangás nacionais e japoneses (mesmo que escassos), há todo tipo de quadrinho para ler. Assim como a Netflix, você paga uma mensalidade e pode ler tudo do catálogo. O Social Comics é uma iniciativa ousada, porém é muito positiva. O preço não é tão acessível, porém viável a quem gosta de quadrinhos. 

É possível ainda experimentar de graça por um tempo e escolher métodos de pagamento bem tranquilos. A quem ainda não tem conta bancária, é possível assinar via boleto, o que facilita bastante aos jovens padawans

Manga Plus (Shueisha)

Aplicativo da própria editora Shueisha, com muitos capítulos simultâneos mais conhecidos da Shonen Jump. E melhor: DE GRAÇA. O Manga Plus tornou o acesso aos mangás mais famosos muito mais viável e acessível. Ainda o foco são em mangás shonen, mas futuramente pode tornar algo bem mais amplo e global. 

Tu curte a Jump? Esse aplicativo é perfeito para você. E de graça.

Dá para baixar tanto em Android quanto iOS. E além disso, não existe apenas o idioma inglês, mas também espanhol, o que pode facilitar um pouco nossa vida. 

Book Walker

Uma espécie de livraria digital global, a Book Walker possui cerca de 2000 títulos no catálogo, com mangás de todos os tipos (shojo, josei, shonen, seinen, boys love, etc). Há variados preços por volume ou capítulo (pois também há títulos simulpub). 

A compra é feita em dólar, então nós brasileiros precisamos fazer mais planos para adquirir alguns títulos, porém o bom da Book Walker é os pacotões de descontos que eles dão, e algumas facilidades na hora de adquirir os ebooks. Eles ensinam tudo, o que ajuda bastante a entender a plataforma. Porém, tem que saber inglês. 

Há mangás de graça, e que custam U$1, então dá para começar com pouco e ir economizando aos poucos para adquirir outros volumes de mangá. 

Comic Walker

Uma plataforma originalmente japonesa, porém que tem uma versão em inglês com alguns mangás famosos DE GRAÇA. Basta registrar e ler pela própria plataforma, como costumamos fazer com plataformas piratas. A Comic Walker possui um catálogo pequeno em inglês, mas tem uma grande potencial de crescer mais.

Não esqueçam de na hora de entrar, mudar o idioma para inglês, assim terá acesso a esses mangás.

Entre as leituras, é possível ler Mobile Suit Gundam, Evangelion, Love Live, Accel World, Angel Beats, Sword Art Online e mais uma cacetada de títulos alternativos. 

Comixology

Talvez o Comixology seja a plataforma com o maior catálogo possível de quadrinhos digitais. A empresa é da Amazon e para nós brasileiros é possível fazer compras normalmente (apenas não podemos ter a assinatura Comixology Unlimited). Tem os mangás mais famosos, tem mangás alternativos, tem mangás para chorar, tudo. Alguns a preços MUITO acessíveis. 

Ainda, se quiser, os membros Prime podem sincronizar a conta com a Comixology, facilitando na hora de filtrar gostos e centralizar tudo em uma conta só. Olha, é sucesso, tá? É claro que as compras são em dólar, mas também é tranquilo fazer as compras caso tenha um cartão internacional. 

Futekiya Library

Se você é fã de boys love, o Futekiya Library é para você. Por U$6 ao mês, você tem disponível um catálogo imenso de boys love para ler, oficialmente. Eles aceitam Visa e Mastercard, então se tu tem um cartão Nubank (por exemplo), tu consegue fazer a assinatura sem muitos problemas. 

A plataforma é bem lindinha.

Aqui a gente precisa se preocupar com o dólar, mas tirando isso, é um preço relativamente acessível. Ainda você pode ler alguns mangás de graça para experimentar a plataforma. Funciona bem próximo com o Social Comics, então é bem tranquilo.

Lilyka

Ao contrário do Futekiya, a Lilyka é especializada em yuri, vendendo volumes a preços mais em conta, entre U$5 e U$6. Ainda é uma plataforma recente, dos mesmos donos da June Manga, eManga e Project Hentai, todos dos EUA. Portanto, para comprar, é preciso um cartão internacional.

Fiquei tão feliz quando descobri a Lilyka *-*

Por experiência própria com yuri, por ser uma plataforma recente, possui mangás bem cotados no Japão, e que não são tão fáceis de encontrar para ler pirata. E lógico, a tradução oficial é outro nível, além da qualidade das imagens. É uma plataforma para ficar de olho. 

Manga Club

Se está procurando mangás mais alternativos, o Manga Club é a melhor plataforma para isso. Focada mais em romance e histórias mais “maduras” (diga-se, pode ter putaria, mas não é a regra), o Manga Club possui um catálogo bem maior do que o Comic Walker, por exemplo. 

Além de yuri e yaoi, a plataforma possui histórias bem mais alternativas que foram serializados em revistas seinen, shonen e shojo. A plataforma é bem intuitiva e as leituras são, em sua maioria, de graça. Porém os tickets (ou coins) não são caros, dando para acumular coins pagando apenas U$1.

Amo/Sou

É perfeito para conhecer novas histórias e ler mangá de forma mais acessível. Eu já fiz meu cadastro até.

Netcomics

Se está procurando por romance, seja ele qual for (bl, yuri, hétero, que seja), a Netcomics é a plataforma que possui um catálogo grande, pois não possui apenas mangás, mas também webtoons e novels. É totalmente para quem curte shojo, josei e BL

Muitos capítulos podem ser lidos de graça e, posteriormente, comprar os volumes através do PayPal. Ao contrário das outras plataformas, ela ainda soa um pouco amadora, até porque as obras são bem alternativas mesmo. 

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