O evento ocorrido na Japan House, de 29 de outubro de 2019 até dia 05 de janeiro de 2020 foi um sucesso. Isto é Mangá – a Arte de Naoki Urasawa teve mais de 100 mil visitas, sendo um recorde de público. A exposição já passou pelas cidades de Los Angeles (EUA) e Londres (Inglaterra) e ficou alguns meses na cidade de São Paulo

Sim, o Naoki tweetou em português, da sua conta oficial.

A exposição abordou o início da carreira do mangaká, assim como trouxe também informações básicas sobre o nascimento do mercado japonês, com os sucessos das obras de Osamu Tezuka. Por ser uma mostra gratuita e sem indicação de idade, o local foi uma grande reunião de pessoas de todas as idades e gêneros, o que ajuda muito a difundir essa linha cultural do Japão, que conquistou o mundo. 

Foi possível conhecer mais detalhes sobre a produção de mangá, os sucessos do autor, seu passado e como se tornou um mangaká amado mundialmente. De forma simples, a exposição foi extremamente completa e que deixa qualquer fã de mangá com um sorriso no rosto.

A exposição “Isto é Mangá”

A mostra ocupou um bom espaço no terceiro andar do prédio da Japan House, e fez uma trajetória desde o início da carreira de Naoki Urasawa, até suas obras mais recentes. Nessa trajetória a gente passa pelo repertório de temas do mangaká, a produção dos capítulos, rascunhos originais, assim como a infância do autor, que já amava desenhar em seus cadernos. 

Arte exclusiva de Urasawa para a exposição, com personagens de todas suas obras.

Naoki surgiu como mangaká na década de 1980, e desde lá apresenta obras diferenciadas, tanto do ponto de vista gráfico, com traços mais realistas, quanto no desenvolvimento de histórias. Justamente pela junção desses dois talentos que fizeram Urasawa ser considerado o Osamu Tezuka dessa atual geração. 

Os grandes sucessos do autor são, com toda certeza, Yawara!, Monster, 20th Century Boys, Pluto e Billy Bat, mas, não são os únicos títulos lançados por Urasawa. Master Keaton, lançado em 1988, por exemplo, é uma obra com um protagonista que ama artefatos históricos, bem na pegada arqueológica, incluindo drama e decisões bem humanas, que consideramos próximas da realidade. 

E a exposição fala um pouco sobre cada uma das obras de Naoki Urasawa, mostrando como o autor sai da água pro vinho, mas continua criando enredos bem amarrados, e personagens extremamente cativantes. Poucas histórias do Urasawa se passam de fato no Japão, e isso o tornou uma figura internacional. 

Jigoro, personagem de Yawara!

Urasawa é apaixonado pelo mundo, e coloca referências ocidentais e orientais, mesclando bastante e tornando a história muito próxima para qualquer leitor. Ele procura estudar a cultura do local, história e a arquitetura, para que seja o mais fiel possível com a realidade. Digamos que ele é o Makoto Shinkai (pra ficar mais fácil de todos identificarem) dos mangás. 

Já falamos sobre o mangá de 20th Century Boys aqui no Chimichangas, que basicamente é um mangá distópico sobre um Japão que mudou totalmente do século XX para o XXI por conta do Amigo, uma figura manipuladora que criou uma seita religiosa e passou também a comandar a política. 

Enquanto 20th Century Boys é retratado no Japão, Monster, outro mangá do autor, acontece na Alemanha. Já Pluto é uma reinterpretação de Urasawa sobre Atom, o Astro Boy de Osamu Tezuka. No mangá ele retrata a divisão da sociedade com humanos e robôs, e como o ódio pode corromper uma sociedade. Os três mangás já foram lançados no Brasil pela Panini Comics

Uma das cenas mais icônicas do mangá de Monster. Tenma, protagonista da obra aponta uma arma para Johan, o grande vilão.

Toda a exposição deixou trechos dos mangás para os visitantes verem e sentirem um pouco do gostinho de cada uma das principais histórias de Naoki Urasawa. Mas a exposição não parou por aí. Telões mostrando o Urasawa desenhando, assim como passando entrevistas de outros artistas falando sobre o Naoki foram ótimos conteúdos imersivos. 

Sem contar os quadros expositivos. Cada um mais lindo que o outro, além de uma arte exclusiva feita para o Brasil. Naoki fez o Jigoro, um velhinho e avô da protagonista de Yawara! comendo churrasco, típica comida do Brasil

Por fim, o visitante ainda podia tirar uma foto ao lado do Amigo, o principal vilão de 20th Century Boys. Ter esse tipo de conteúdo no país é algo muito significativo e nos dá esperança de que mais pessoas se interessem por quadrinhos daqui para frente. 

Estátua do Amigo, vilão de 20th Century Boys, na exposição Isto é Mangá

Além da exposição

Em paralelo, a Japan House não se limitou em trazer a exposição, mas também proporcionar diferentes palestras temáticas sobre o mundo dos mangás e animês. Em todo seu cronograma, tivemos ao menos 7 palestras em que o mangá e o animê foram temas. Segue abaixo cada uma delas: 

  • O Mercado de Mangá no Brasil
  • O Universo de Mangá no Brasil (sobre licenciantes de outros artigos advindos do mangá)
  • Mangá também é digital
  • A Arte do Mangá Influenciando a Produção Nacional
  • A Cultura Pop no Brasil
  • Naoki Urasawa: Adaptação das obras no Brasil
  • O Mangá Japonês: Passado, Presente e Futuro

As informações principais sobre cada uma delas você pode encontrar no próprio site da Japan House, que deixa tudo bem completo e informativo a quem se interessar. Aqui no Chimichangas, chegamos a falar um pouco de algumas palestras, mas vocês podem procurar mais informações no site do Mais de Oito Mil, que cobriu todas as palestras.

Entre elas, destaco o texto sobre a adaptação das obras do Urasawa no Brasil, e também o que fala sobre a criação de um novo público de leitores de mangás. Todas as palestras foram muito ricas e deram diversos caminhos que as editoras podem seguir, além de trazer informações para os consumidores.

Detalhes editoriais

A exposição expôs diversos conteúdos extras, explicando a produção de Urasawa e porquê se tornou um fenômeno mundial. Naoki é um produtor exemplar, que entende muito de quadrinização e como criar um enredo chocante e interessante, como se estivéssemos vendo um filme no cinema. 

Artes originais de Monster feitas pelo Urasawa

Os quadros desenhados, a exposição do personagem, assim como os diálogos são planejados para que o leitor tenha mais vontade de continuar lendo, virando as páginas como se tivessem mudando de cena de um programa de TV. A ideia é que o leitor fique cada vez mais “vidrado” na história. 

Outra característica de mangakás no geral, mas que Urasawa se sobressai mais, é no desenvolvimento de personagens. A maior parte dos mangás focam em criar personagens carismáticos que os leitores seguem, acreditam e torcem. 

Urasawa não faz apenas um background histórico interessante para um personagem, ele desenvolve o começo, meio e fim de cada um. Desde o personagem mais simples, até o protagonista. E com certeza esse é o maior talento de Urasawa. Nenhum personagem é esquecido e cada um tem seu caminho e sua importância. Nenhum deles está ali para encher linguiça. 

Urasawa já desenhava desde os 8 anos de idade. Beta foi seu primeiro trabalho profissional com mangá.

Conclusão

Todo o trabalho da Japan House de fazer as pessoas (ao menos que estão em SP-capital e região) se engajarem mais no mundo dos mangás foi primoroso. A exposição em si foi muito organizada, respeitando muito a história do Urasawa e o universo dos mangás. Ver um trabalho profissional assim aquece bem o coração de um fã de mangá. 

E o trabalho pós-exposição também foi muito coerente, trazendo figuras importantes do mercado para falar sobre o assunto. A quem pode participar de alguns dos eventos, saiu com muito mais conhecimento sobre nossa realidade cultural de quando entrou. 

Artes originais que Urasawa fez para 20th Century Boys

Apesar de ainda ficarmos à mercê de exposições na cidade de São Paulo, todo o trabalho foi extremamente bem feito, com muito cuidado e respeito. Para uma pessoa que está presente nos principais eventos de cultura pop japonesa, ver essa exposição é algo de outro nível, e muito especial.

Topo