Sexta-Feira passada (25/10) estreou a primeira parte da última temporada de “Bojack Horseman” e posso dizer que não sei lidar muito bem com essa notícia. Sua segunda parte estreará no dia 31 de Janeiro de 2020. E, para comemorar a honra de termos tido essa série, faço esse texto para lembrarmos do porque nos identificamos tanto. Então vamos lá!

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O que é Bojack Horseman?

Indo para além de relembrar episódios épicos de Bojack como, por exemplo, dois que considero dos mais pesados, “Peixe fora D’água” (T03E04) e “Churros Grátis” (T05E06), com suas narrativas totalmente diferentes, cem por cento interiorizada – uma em que Horseman fala de menos e outra que fala de mais – quero colocar aqui certos recursos, temas, ou filosofias que acabam por mostrar perfeitamente o peso de existir em “Bojack Horseman”.

Churros Grátis

Acredito que todo mundo já conheça a série, claramente entendo que sobre ela já tenham dito muito, mas para relembrarmos ou, aos que ainda não viram, é válido resumir. Temos um universo com animais antropomorfos. Especificamente um cavalo ator com um passado glorioso, estrela de uma sitcom de sucesso que não consegue se desligar do que viveu e fica imerso nessas lembranças.

A série é engraçada. Nos faz rir e como “Bojack Horseman” acerta com seu humor. Com tantas piadas literais com trejeitos de animais misturado com traços humanos, sacadas com o mundo da tv e Hollywood, milhares de tiradase piadas sofisticadas ou não, e mostrando a vida triste e solitária de Horseman que é carente demais por atenção e egoísta demais para valorizar as pessoas a sua volta.

“Bojack Horseman” sempre acertou e mesmo com seus humor incrível e irreverente, ainda assim é uma série que dói e que causa um riso um tanto quanto incômodo. Conseguimos nos ver, tanto intimamente quanto como sociedade. Bojack sempre tenta mostrar ao mundo como é suficiente, e, como uma experiência fracassada, percebe que nada funciona, e acaba sempre voltando para os falsos abraços: bebidas, sexo, apego em qualquer pessoa, fama, arrogância e drogas.

Bojack  - When

Em meio a tantos problemas, como não atingir seus objetivos, não conseguindo grandes papeis, ou até, como na última temporada, quando consegue o papel de seus sonhos no filme “Secretariat”, Bojack nunca está totalmente feliz e satisfeito. Sempre se vê sozinho mostrando mais uma vez como realmente nada satisfaz, tanto em sociedade como em seu interior, e mostrando mais uma vez um Bojack percebendo que não se encaixa.

Bojack Horseman e Sr. Peanutbutter

Bojack e Sr. Peanutbutter

Um personagem extremo ao outro, Sr. Peanutbutter e Bojack Horseman. As interpretações possíveis a essa relação dos dois são incontáveis. Uma das que mais gosto é a de pensar sobre como um deles abraça essa vida sem sentido, mesmo tendo consciência dela, e tenta fazê-la valer a pena, tenta se divertir e tenta lidar com tudo que temos nas mãos e o outro realmente não consegue lidar com a falta de sentido e sua falta de lugar. Os dois tem praticamente as mesmas oportunidades a mesma vida, até mesmo as mesmas experiências, um pessimista ao extremo, um otimista na mesma medida.

Sr. Peanutbutter consegue, no universo dessa série se tornar um dos personagens mais odiados por seu otimismo extremo. Isso acontece, porque na animação, assim como em nossa realidade atual, há uma sociedade imersa em solidão, imersa em tentar se provar para o mundo e nunca ser suficiente para ele, todos estão tão acostumados com o pessimismo que Sr. Peanutbutter incomoda, irrita, cansa.

Falando em solidão…

Um dos episódios mais deprimentes de “Bojack Horseman” sem dúvida é “Diga qualquer coisa” (S01E07), o episódio que mostra o aniversário de 40 anos da Princesa Carolyn. Ao fim de um dia de derrotas e fracassos tanto pessoais quanto profissionais, depois de sua agência Vigor se unir com uma agência concorrente, ela se dá conta de quantos de seus sonhos foram sacrificados e quantas centenas deles por causa de BoJack.

Diga Qualquer Coisa - Bojack Horseman

Segundo o próprio criador da série Raphael Bob-Waksberg, em entrevista dada em 2016 quando estrearia a 3ª temporada, disse que esse episódio foi muito questionado por ser tão sombrio e deprimente e que sua ideia a princípio não foi aceita pela Netflix. Bob-Waksberg disse que uma das maneiras de aliviar mais o episódio era colocar mais de BoJack nele, mesmo que fosse ele de papelão ao fundo, já que a princípio era inteiro pelo olhar de Princesa Carolyn.

Raphael Bob-Waksberg ainda citou na época, que esse era um de seus episódios favoritos, por começar a mostrar como os atos egoístas de Bojack surtem grandes efeitos na vida das pessoas:

Agora vamos levar a sério as ações de BoJack e vamos ver como ele realmente machuca a princesa Carolyn. Então a pergunta é: “Queremos fazer isso com nosso protagonista e mostrar que ele não é tão divertido assim que pode se safar de alguma coisa?” As pessoas estão realmente torcendo por ele, e então ele as fode e não as aprecia. Queremos jogar nosso personagem principal sob o ônibus assim? E acho que esse programa é muito melhor porque decidimos: “Sim, nós fazemos”. Este episódio ocupa um lugar especial no meu coração por esse motivo.

Sobre a 6ª temporada

Sexta temporada Bojack

Essa primeira parte do fim de “Bojack Horseman” – sem spoiler – possui vários episódios, logo no início, focados em outros personagens que não BoJack, assim como falamos do “Diga qualquer coisa” anteriormente, com pitadinhas de Horseman para que não fique tão deprê.

Além disso, apesar da série ainda estar muito voltada para o interior dos personagens, suas humanidades e em como buscam provar para si mesmos e para os outros seus lugares no mundo (sempre fracassando), a nova temporada ainda traz discussões filosóficas bem sociais, sobre lugar da mulher e mega-corporações, sempre com um humor ácido.

A premissa dessa nova temporada não muda muito em relação às outras, isso porque é justamente disso que a série trata. Sobre sempre tentar melhorar e mudar, mas nunca sair do lugar, sempre tentar buscar seu espaço, sua felicidade e quase nunca conseguir. Bojack ainda luta para parar de beber, e parar de decepcionar as pessoas a sua volta. Diane ainda procura um lugar que possa lutar e sentir que fez algo para mudar. Princesa Carolyn ainda sonha com suas realizações pessoais…

A série é simplesmente uma paródia da pós-modernidade e por tristeza ou similaridade com a vida real, eu não consigo esperar um final com catarse. O que nos resta é esperar e logo, sai um texto com spoilers e possíveis interpretações dessa nova temporada!

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