Conheça Anne Lister
Anne Lister – chamada por uns maldosos de Gentleman Jack e por uma antiga namorada de Freddie – nasceu em 3 de abril de 1791, em Halifax. Foi uma eficiente mulher de negócios, viajante, alpinista, proprietária de terras, incrivelmente aventureira, inteligentíssima, corajosa e dona de si.
Infelizmente, com exceção de Halifax e dos arredores de Shibden Hall – propriedade da família que Anne herdou de seu tio –, a história de Anne Lister não é tão conhecida quanto deveria pelo resto do mundo. Por isso eu estou aqui pra fazer minha parte e ajudar um pouquinho a espalhar a palavra!
Sabemos que a época não era nada fácil pra mulheres, então eu quero que você imagine como deveria ser pra uma mulher que desafia todo e qualquer estereótipo.
Esse era o caso de Anne.
Seu extenso diário codificado com uma mistura de álgebra e grego antigo conta sua vida com detalhes. Desde as motivações, estratégias de negócios, até seus vários casos amorosos com mulheres.
O diário tinha mais de 5 milhões de palavras, mais de 7 mil páginas, e seu código só foi decifrado 90 anos depois de sua morte. Em 2010 foi adaptado num filme e, em 2019, a HBO trouxe pra nós essa história sensacional em forma de série, e é dela que eu resolvi falar.
A série
Não só de decepção Game of Thrones vive a HBO, não é mesmo? Ano passado a emissora lançou a série entitulada Gentleman Jack.
O título da série faz referência ao apelido que os moradores de Halifax maldosamente atribuíram à Anne. E, no decorrer da série, você percebe que o cuidado com os detalhes é característica forte dessa produção.
Eu comecei esse texto pensando no quanto eu amei essa série e queria vir aqui mostrar um pouquinho dela e, quem sabe, despertar seu interesse. Mas conforme as palavras vão saindo, fico triste de pensar no quanto a gente ainda tem que evoluir.
Quão pequena é a evolução da sociedade em relação às mulheres e à sexualidade. E na série, que retrata um período de dois séculos atrás, a gente nota absurdos. Mas, preocupantemente, também notamos muitas semelhanças.
Na época em que Anne viveu, a vida das mulheres se resumia a ser “respeitável” de acordo com as convenções e, por consequência, arrumar um marido.
Por ser mulher, você não podia se envolver em negócios, nas finanças da família, não podia sequer viajar sem a companhia de um homem. E AI DE VOCÊ se falasse ou fizesse algo que manchasse a “honra” de um homem.
E Anne sempre deixou muito claro que não ligava pra nada disso, portanto se vestia como queria, falava como e com quem queria, fazia o que queria e ninguém seria capaz de dizer que ela não podia.
A personalidade de Anne é retratada maravilhosamente por Suranne Jones. Até mesmo sua forma de andar é um desafio aberto ao mundo, pois Anne sabe que não é nada como o esperado das mulheres, e faz questão que sua voz seja ouvida.
Temas profundos e dolorosos
Mesmo tratando de temas pesados, Gentleman Jack consegue manter a medida certa de leveza e humor.
Você vai se emocionar com as histórias de amor e com as decepções de Anne. Ainda assim, vai se frustrar com o machismo, a homofobia, crianças trabalhando em minas e o desespero de uma doença psicológica.
Me destrói o coração ver de perto o desconforto que a sociedade quer impor em uma pessoa que simplesmente é segura o bastante pra assumir quem é. E essa é uma das semelhanças mais gritantes com os tempos atuais.
A lição que Gentleman Jack deixa pra mim é que se conhecer e se aceitar acima de tudo é essencial, mesmo que ninguém mais o faça. O mundo pode ser cruel, mas dificilmente é mais cruel que nossa própria mente, nossa própria visão sobre nós mesmos.
Temos que nos respeitar, somos tudo que temos. ♥
É isso, encerro por aqui com o recado: ASSISTAM GENTLEMAN JACK!
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