O seriado que teve muitos percalços para chegar até a quinta temporada e ter a sexta renovada pela Amazon Prime, é certamente uma das séries mais subestimadas no Brasil. The Expanse merece ser exaltado e é para isso que esse texto foi pensado.  

Antes de falar da sinopse e do desenvolvimento da história, vamos às informações básicas. The Expanse foi lançado primeiro pelo canal SyFy em 2015, mas cancelada em 2019, na terceira temporada. Mark Fergus e Hawk Ostby são os autores da versão em série, já que a obra original é uma saga literária por Daniel Abraham e Ty Franck de mesmo nome. 

Por isso que, antes do seriado se tornar exclusivo do Prime Video, era possível assistir ao seriado na Netflix. No entanto, no fim de 2019, já com os direitos da Amazon, a quarta temporada saiu e desde então o seriado está mais estável. 

Sinopse

Atualmente a quinta temporada está sendo lançada semanalmente e terá seu fim na sexta, ainda sem uma data específica informada. Segue abaixo a sinopse oficial, só para vocês terem um gostinho antes de começarmos a discutir. Lembrando, este texto não terá spoilers. 

“Situada 200 anos no futuro, The Expanse narra a história de um tempo em que a humanidade já colonizou o sistema solar. A história começa quando o desaparecimento de uma mulher leva um detetive (Thomas Jane) e o capitão de uma nave espacial (Steven Strait) a trabalharem juntos, mas eles acabam entrando em uma corrida para revelar uma conspiração que pode ser a maior e mais perigosa da história da humanidade (Adoro Cinema).”

The Expanse e a base política

A sinopse é bastante genérica e reducionista, então vou tentar explicar com mais detalhe, sem entregar muito o que acontece nos primeiros episódios. Só assim a gente entende a dimensão do problema do universo como um todo. 

Quando a gente lê a palavra “conspiração” a gente já imagina umas coisas tipo “atentado contra governantes” ou teorias esdrúxulas da conspiração do nosso mundo que acabam acontecendo na ficção, o que faz tudo parecer meio piegas, clichê e sem noção. 

Por isso não gosto de dizer que The Expanse parte de um pressuposto para descobrir uma “conspiração”. O termo aqui é empregado totalmente para dizer que há um mistério a ser descoberto que vai mudar totalmente como o mundo funciona. 

O que acontece é totalmente coerente com os jogos políticos que temos nas diplomacias por aí, mas em The Expanse a diferença é que a diplomacia acontece de forma galáctica.

Explicar primeiro o mundo.

O mundo

Em The Expanse existem 3 povos diferentes, todos eles humanos, ainda que a colonização espacial já esteja em voga há uns séculos. O que quero dizer: não encontraram nenhuma vida alienígena ainda, portanto não existem raças diferentes. 

Então os seres humanos vieram todos da Terra de alguma forma, muito, mas muito tempo atrás. No entanto, já se passaram tantos séculos, que esses povos não são mais “terráqueos”. Portanto, os 3 povos são: o povo da Terra; o povo de Marte e os Belters. 

Vamos explicar cada um para ficar mais fácil.

Estrutura planetária

Os Belters não possuem um planeta próprio, nem uma nação específica que tenha insumos próprios, formas de economia e organização. Os Belters são a mão de obra de Marte e Terra para explorar a galáxia, seja para construção de máquinas e naves diversas, até para a busca de matéria-prima. 

Sendo assim os Belters vivem em grandes satélites ou dentro de naves, desde seus nascimentos, todos geridos pela Terra ou por Marte. É também um grupo bem plural, com várias facções fragmentadas e com posições políticas diferentes, alguns ingênuos, outros diplomatas e outros extremistas. 

Marte foi colonizada pelos sonhadores da Terra, na busca por uma nova terra natal, já que a Terra está em um estado bastante complicado. São milhões de pessoas que não possuem emprego, vivem nas ruas e a desigualdade social é abissal. 

O sonho era criar uma atmosfera igual ou muito próxima da Terra em Marte, no entanto, já se passaram ao menos 3 séculos e não há uma previsão para que essa atmosfera fique pronta. Então os marcianos vivem em grandes construções totalmente adaptados para a vida humana. 

Os 3 povos se odeiam. A Terra por ter ser colonialista e imperialista por gerações, olha para Marte e Belters como inferiores, no entanto há grupos que fazem diplomacia para evitar guerras, enquanto o exército só pensa de forma militarizada. Marte odeia a Terra por já ter ocorrido casos de mortes desnecessárias e vários impedimentos para que a atmosfera do planeta fosse algo mais real. 

E os Belters odeiam marcianos e terráqueos porque ambos exploram os trabalhadores a níveis surreais, a ponto de deixarem de enviar água e oxigênio para naves e satélites como punição, matando milhões de trabalhadores. 

Okay, essa é a base para você entender como “conspiração” cagou totalmente em como esses 3 povos vão se relacionar. 

O mistério da 1ª temporada

Tudo começa quando Canterbury, uma nave médica e de resgate, recebe um pedido de socorro. O chefe da nave pensou em recusar o pedido, no entanto deixou para que James Holden (Steven Straig) decidisse, pois Holden seria o próximo líder daquela nave, já que seu chefe estava próximo de se aposentar. 

De última hora, Holden resolve atender esse pedido. Quando eles chegam no resgate se deparam com algo totalmente novo e inesperado: vida inteligente. Mas não era para eles estarem ali, nem verem aquilo. Então são atacados e poucos da nave de Holden sobrevivem para contar história. 

Então a primeira temporada basicamente é para entender o que houve naquela nave e o que é aquela vida inteligente azul jamais antes vista. Quem estava na nave de resgate era nada mais nada menos que a Juliette Andromeda Mao (Florence Faivre), filha de um bilionário da tecnologia galáctica.   

A partir daí há diversos núcleos que querem descobrir a verdade: Belters, marcianos e terráqueos. James Holden, que nasceu na Terra, sobrevive junto com uma equipe pequena: uma belter chamada Naomi Nagata (Dominique Tipper), um marciano de nome Alex Kamal (Cas Anvar) e Amos Burton (Wes Chatham), outro terráqueo. 

Os tripulantes da Rocinante. Da esquerda pra direita: Naomi Nagata, Amos Burton, James Holden e Alex Kamal

O Belter mais interessado é Joe Miller (Thomas Jane), um policial de Ceres. Ceres é um dos principais satélites belters da galáxia, mas como Millier é um policial, outras facções dos belters o consideram “pau mandado da Terra”. 

A sua investigação, de alguma forma, vai de encontro com todos os outros núcleos do universo da série, linkando informações de James Holden e sua tripulação, Avasarela, representante da diplomacia terráquea, assim como personagens que surgirão de Marte. 

Ceres

O grande triunfo da série

The Expanse é uma série que se move sozinha, pois existem diversos núcleos de personagens que são verdadeiros povos, com objetivos, sonhos e ideais. Então a todo episódio, ainda que estejamos vendo James Holden e sua tripulação, os outros núcleos estão caminhando para direções, algumas convergentes, outras nem tanto. 

Isso torna tudo extremamente apaixonante. Os personagens são bons, mas melhor ainda quando há um universo vivo ficcional funcionando junto com eles. E todos, sem exceção, são fundamentais para o roteiro.

É uma verdadeira aula de roteiro, em conjunto com ótimas formas de narrativa para se chegar aos clímax de cada temporada. A história sempre avança, não estaca em um ponto e fica enrolando. 

A primeira temporada é o pontapé inicial para se falar sobre diplomacias, política, decisões complexas, em conjunto com a preservação de culturas étnicas e sonhos de quem sempre sofreu opressões (inclusive os próprios terráqueos que vivem nas ruas e passam fome). 

Nova Iorque, como sempre, é o centro da ONU, que é a grande instituição “democrática” espacial, com um presidente representante da Terra inteira

Ela pode parecer um pouco confusa, pois é quando as coisas estão se ligando. Mas a partir da segunda as coisas só melhoram e avançam para mais e mais discussões fundamentais e importantes, que estão em voga também na nossa realidade (imigração, genocídio, pandemia etc). 

Nas temporadas seguintes novos personagens surgem e eles continuam até então, na 5ª temporada. Bom, pelo menos os que sobreviveram. Quando o seriado acabar, certamente farei um texto cheio de spoilers para falar sobre avanços e acontecimentos da obra que são fenomenais. 

Alguns personagens que virão depois, só deixarei o nome, quando vocês assistirem e verem quem são, saibam: são personagens ótimos e que serão necessários para o avanço da história. 

  1. Roberta “Bobbie” Draper
  2. Camina Drummer
  3. Clarissa Melpomene Mao
  4. Fred Johnsson

Há alguns ainda, mas aí são personagens mais recentes e melhor vocês assistirem primeiro. Também outros personagens secundários que não são contínuos, mas aparecem em uma temporada para cumprir um papel importante. 

Os efeitos especiais

Outro grande triunfo de The Expanse são os efeitos especiais. Quando a gente pensa em uma mídia no espaço, ainda mais em série, a gente fica já com um pé atrás. Lembro quando assistia umas coisas de ficção que abordava civilizações futuras, então formas diferentes de viver, como prédios completamente diferentes, roupas e hábitos. 

Ou casos em que o núcleo de personagens principais eram enviados para a pré-história. Ainda que o plot fosse interessante, os efeitos especiais eram tão ruins que não dava para comprar a ideia de que os personagens estavam passando por aquilo tudo. 

Esse definitivamente não se encaixa com The Expanse. Os efeitos são tão bons e naturais que a gente compra 100% a ideia de que eles estão em naves, novos planetas e no espaço. É tudo feito com muito cuidado para não parecer vergonha alheia demais. Um exemplo. 

Os efeitos, no entanto, não estão no nível do cinema, como Star Wars, mas são bem bons para um seriado e fazem o dever de casa. 

Enfim, no geral, The Expanse foi o melhor seriado que eu assisti em 2020 e certamente está entre meus favoritos da vida. Ainda não entendo como esse seriado não explodiu de sucesso, pois ele é uma mescla de Star Trek e Star Wars, mas com um roteiro fenomenal a lá Isaac Asimov (Fundação, Saga dos Robôs) ou Frank Herbert (Duna). 

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