Americanah (título original) foi escrito pela autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Ela é conhecida por várias outras obras renomadas, como “Hibisco Roxo“, “No Seu Pescoço“, “Meio Sol Amarelo“, “Para educar crianças feministas” etc.

Também fez sucesso por causa da sua famosa apresentação no TEDTalk, chamada “O perigo da história única“. Posteriormente, apareceu de novo no programa, com outro tema importante, afirmando que “Todos devemos ser feministas“.

Quanto ao livro Americanah, best-seller vencedor do National Book Award, tem-se que foi publicado no Brasil em 2014, pela editora Companhia das Letras. Com apenas 520 páginas, a tradução ficou a cargo de Julia Romeu, enquanto a capa foi elaborada por Claudia Espínola de Carvalho.

Breves Considerações

Chimamanda Ngozi Adichie

Sinopse: Lagos, anos 1990. Enquanto Ifemelu e Obinze vivem o idílio do primeiro amor, a Nigéria enfrenta tempos sombrios sob um governo militar. Em busca de alternativas às universidades nacionais, paralisadas por sucessivas greves, a jovem Ifemelu muda-se para os Estados Unidos. Ao mesmo tempo que se destaca no meio acadêmico, ela se depara pela primeira vez com a questão racial e com as agruras da vida de imigrante, mulher e negra.

Quinze anos mais tarde, Ifemelu é uma blogueira aclamada nos Estados Unidos, mas o tempo e o sucesso não atenuaram o apego à sua terra natal, tampouco anularam sua ligação com Obinze. Quando ela volta para a Nigéria, terá de encontrar seu lugar num país muito diferente do que deixou e na vida de seu companheiro de adolescência. (Fonte: Companhia das Letras)

Antes de entrar no mérito do livro, gostaria de esclarecer dois pontos. O primeiro é que sou uma grande fã da Chimamanda, com o meu contato inicial sendo o vídeo da história única. Fiquei fascinada com a fala dela, o carisma e o jeito de se portar, deixando uma incrível presença de palco e a sensação real de algo fundamental. Lembro que terminei a apresentação com a certeza de que deveria conferir cada trabalho da Chimamanda.

O segundo diz respeito à sinopse aqui exposta. Geralmente faço uma síntese da história com as minhas palavras, mas na atual postagem acredito ser desnecessário. Isso porque considero o “resumo” bem completo e livre de spoilers, de modo que explora cada cantinho especial do presente romance.

Um olhar aguçado sobre as mazelas sociais

Parte da capa do livro Americanah

Faz um tempo que terminei a leitura de Americanah. Acredito que foi numa época interessante, pois no livro acompanhamos a felicidade da protagonista ao ver que Obama seria presidente dos Estados Unidos. Era algo que ela desejava muito, mas que não acreditava ser possível, tanto que demora para cair a ficha quando a vitória dele aparece na televisão.

Na vida real, meses depois do fim de acompanhar Americanah, Barack Obama, o primeiro homem negro a assumir o cargo na história dos EUA, ao lado de Michelle Obama, mulher negra, faz o discurso de despedida. Foi inevitável não lembrar da obra da Chimamanda, sentindo um impacto e uma reflexão bem maiores com a saída dele.

Pensei no sentimento dos personagens fictícios, mas também nas personalidades de carne e osso que se sentiram representadas por Obama durante oito anos. Se fosse um tempo atrás, tais questões teriam passado despercebidas ou ao menos causariam um abalo menor.

Ocorre que Americanah trabalha o tempo todo com um termo indispensável para os tempos atuais, tanto para a política quanto para outros ambientes. Falo aqui justamente do valor da empatia, que é a palavra da vez e é a palavra da obra como um todo… compreensão com o próximo, independente do gênero, da etnia, da idade etc.

A evolução da alma

Outros livros da Chimanda: “Para educar crianças feministas”, “Sejamos todos feministas”, “Americanah”, “No seu pescoço”, “Hibisco Roxo” e “Meio Sol Amarelo”

Nesse sentido, é possível afirmar que uma coisa é você ter plena conviccção da importância da representatividade. Outra bem diferente é você assimilar, abosrver e entender a razão dessa relevância, justamente por ter que viver cada dia pensando nisso, já que sofre com a ausência dela por parte dos demais.

Assim, Americanah cumpriu com maestria o papel de aviso no que diz respeito à necessidade de empatia. Afinal, as histórias vividas pela protagonista Ifemelu e pelas pessoas ao redor dela envolvem muitos problemas atuais, como racismo, xenofobia, depressão, machismo etc.

Dessa maneira, a autora praticamente nos obriga a abrir os olhos para todas essas questões, guiando-nos com uma sagacidade sensível e peculiar.

“Raça não é genótipo; é fenótipo. A raça importa por causa do racismo. E o racismo é absurdo porque gira em torno da aparência. Não do sangue que corre em suas veias. Gira em torno do tom da sua pele, do formato do seu nariz, dos cachos do seu cabelo.”

Escrita envolvente e personagens marcantes

A história gira em torno das vidas de Ifemelu e Obinze, sendo que ela não é apresentada de maneira linear, ou seja, mistura passado, presente e futuro. Isso torna a leitura dinâmica e extremamente real, dá o ar de que várias coisas acontecem ao mesmo tempo, que enquanto Ifemelu está vivendo determinado momento, Obinze está em outro. Há, portanto, a impressão de encontros e desencontros, deixando tudo muito palpável.

Necessário destacar também que Ifemelu é uma protagonista muito marcante, tudo em razão da personalidade dela. É alguém que comete erros, passa por situações complicadas e conversa abertamente com o leitor sobre seus medos, ansiedades e tristezas.

É uma personagem transparente, viva e cheia de incertezas. Apesar disso, ela também consegue ser recheada de convicções, opiniões fortes e um jeito próprio, único e muito especial. Ifemelu é por vezes bem humorada e extremamente cativante, pois em muitas situações o jeito que ela pensa e age, as coisas que ela diz, tudo, absolutamente tudo nela faz com que você reflita em determinado momento e é uma habilidade simplesmente incrível.

Quando a história tem mais de um lado

Ademais, enquanto lia, tive a sensação de que a protagonista tinha ares de Chimamanda em muitas partes. Sobre isso não posso dar certeza, porém há outros aspectos tão gratificantes quanto.

Como exemplo, uma nova visão sobre uma região da África (desgarrada dos estereótipos que estamos acostumados), uma nova forma de apresentar a personalidade da mulher negra e suas belezas (abordando até a questão dos cuidados com os cabelos e a escolha do natural). A visão do imigrante e as dificuldades enfrentadas por eles em um novo país.

Outro aspecto merecedor de elogios é a capa do livro, não somente da edição atual, mas todas as outras, tanto do Brasil quanto de fora. Talvez a razão esteja justamente no design minimalista, dando a ideia de que menos é mais. De todo modo, a minha favorita é a mais recente (a azul, anexada acima), uma vez que representa muito bem toda a proposta do livro.

Americanah nos cinemas?

Danai Gurira e Lupita Nyong’o

No fim das contas, apenas declaro que indico Americanah para toda e qualquer pessoa. A bem da verdade, recomendo toda e qualquer obra da Chimamanda, mesmo as que não li ainda. Além de ser uma autora importante atualmente, ela tem também ideias brilhantes e serve de inspiração para muitos. O trabalho dela merece ser divulgado e apoiado inúmeras vezes.

Inclusive, para quem não curte livros, existe uma boa novidade no ar desde 2014. O fato é que Americanah é considerado um clássico da literatura contemporânea, tendo chamado a atenção de grandes nomes, inclusive da atriz Lupita Nyong’o, que comprou os direitos de adapatação da obra e está em desenvolvimento pela HBO Max.

Assim, inicialmente, transformaria o livro em filme, porém após visitas de campo à África, principalmente Nigéria e Lagos, a produção tomou a decisão de transformar o livro em uma minissérie. E não para por aí: parece que Lupita, além de atriz, assumirá a função de co-produtora e Danai Gurira de roteirista e showrunner.

Outros nomes de peso já estão confirmado, como Uzo Aduba (“Crazy Eyes”, de Orange Is The New Black), Zackary Momoh (Doutor Sono) e Corey Hawkins (Infiltrado na Klan). Lupita e Gurira atuaram brilhantemente no filme “Pantera Negra”, que teve uma carga extremamente significante em termos de representatividade nos dias atuais.

Considerando que é uma minissérie, e tendo em vista todos os nomes envolvidos, não consigo esconder a ansiedade para conferir o resultado. Sinto que será algo incrível, feito com todo o cuidado e atenção do mundo, pegando cada aspecto relevante das críticas apontadas pela Chimamanda. Ainda não tem uma data para o lançamento, mas está cada vez mais perto de ficar pronto e ganhar a minha atenção, espero que a de vocês também!

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