A nova trilogia de Tomb Raider foi memorável e ainda está bem recente nas lembranças dos gamers. O 1º jogo feito pela Crystal Dynamics, trazendo uma nova Lara Croft e um reboot para a história, veio em 2013 para os consoles, ainda na época do PS3 e Xbox 360. 

De lá até aqui, muita coisa aconteceu na jornada de Lara. Nem tudo ficou apenas nos jogos. Tomb Raider: Os Dez Mil Imortais é um livro de transição entre o 1º jogo e o 2º, intitulado Rise of Tomb Raider. No Brasil, o jogo foi lançado pela editora Nemo.

O primeiro game, talvez um dos mais adorados e conhecidos pela comunidade, é sobre a primeira jornada aventuresca de Lara, que perdeu seu pai cedo e fez o possível para seguir os passos dele. Ao saber da lenda de Yamatai e da Rainha Himiko, Lara Croft montou uma equipe de pesquisa depois de muita pesquisa. 

Acabou do jeito que gostamos: com Lara naufragando e descobrindo a ilha de Yamatai, mas tudo que acontece lá não era esperado de maneira alguma por ela. O game é recheado de seitas, busca pela imortalidade, lendas religiosas e muita história e ação.

Os acontecimentos em Yamatai foram bem pesados para a senhorita Croft, e toda a consequência da jornada se passa no livro do título do texto. No livro, lançado em 2014 também pela Crystal Dynamics, e escrito por Dan Abnett & Nik Vincent, Lara está de volta a Londres, mas cheia de sequelas de Yamatai. E não é a única. 

Além de ter que controlar sua ansiedade constante e os ataques de pânico que acaba tendo por lembrar de sons e sensações próximas do que viveu em Yamatai, Sam Nishimura, sua melhor amiga, também está com sequelas psicológicas/psiquiátricas. 

Nos primeiros capítulos do livro Lara é contatada por um médico, que a avisa que Sam está internada e que encontrou apenas o contato de Lara para poder avisar. Ao chegar no hospital, Lara descobre que Sam está desacordada e pelas informações do médico, foi um estresse mental grande que a deixou nesse estado. 

Com a preocupação, Lara decide fazer algo para poder ajudar o estado da Sam, que dias depois sai do coma e conversa com Lara. Sam, no primeiro jogo, é possuída pela Rainha Himiko, e mesmo sendo salva e voltando para Londres, esse trauma se manteve presente.

Tanto Sam quanto Lara procuraram ajuda psicológica, mas o caso de Sam parece ter sido mais grave. Ela tem constantes sonhos com Himiko e por vezes esquece quem é, como se ainda tivesse digladiando internamente entre ser ela e Himiko

Rainha Himiko – Tomb Raider de 2013

Do ponto de vista médico, alguns acompanhamentos podiam ser feitos, e Sam permaneceu internada para fazer exames neurológicos e se manter acompanhada pelo psiquiatra. Mas, do ponto de vista de Lara, por se tratar de Himiko, seria possível ter algum efeito místico para reverter essa condição mental de Sam.

E esse é o objetivo central do livro: descobrir uma forma de curar Sam, mesmo que o caminho para isso seja correr atrás de relíquias místicas e lendas pouco exploradas. 

A busca pelo Velocino de Ouro

O objetivo de Lara, mesmo sendo da melhor das intenções, ainda começa vago no início do livro. A única motivação é achar um jeito de ajudar Sam, mesmo que seja com um objeto simples, que não tenha exatamente um poder místico. 

O início das pesquisas veio com o livro próprio, que já vinha de gerações a gerações sendo alimentadas por arqueólogos e historiadores. Há relatos de vários objetos antigos, locais ainda pouco conhecidos, estudos de civilizações antigas, entre tantas outras informações. 

É nele que Lara coleta informações de uma lenda antiga do Velocino de Ouro. Os primeiros dados sobre a relíquia datava de uma cidade antiga chamada Cólquida, que atualmente se encontra a Geórgia, no sul do Cáucaso e a leste do mar Negro. 

Desde lá dizia que o objeto trazia bons ventos, sorte e podia ainda fazer milagres. No entanto, o objeto em si era bem simples: ele era usado para minerar ouro. Nos contos antigos, ele foi usado como último recurso para tentar trazer benfeitorias à vila, e montaram 2 Velocinos de Ouro em um local nos picos das montanhas, onde passava uma espécie de rio. 

A Cólquida realmente existiu, e os contos e contexto histórico é bem mais detalhado do que escrevi aqui.

A ação deu certo, e o Velocino foi coletado com muito ouro. A história percorreu os anos e muita informação foi perdida, mas acabou se tornando um mito nos dias atuais, possuindo várias referências à Grécia e outros povos

De primeira, Lara não conseguiu fazer todas as ligações do Velocino de Ouro com um possível poder de cura, mas havia passagens de que o objeto lendário poderia trazer tais benefícios. Há diversos detalhes quanto ao contexto histórico do objeto, e o livro tenta relatar todas essas informações. 

A organização Dez Mil Imortais

A grande dúvida de Lara estava em pequenas passagens sobre o Velocino de Ouro que citava um grupo de soldados imortais, denominados Os Dez Mil Imortais. Havia pouquíssimas informações sobre isso, mas de alguma forma isso chamou atenção de Lara. 

O Velocino de Ouro, além da lenda de fazer milagres, ele também tinha sido usado como símbolo de crença. Mas, além disso, poderia ter poderes místicos com a cura, e até mesmo imortalidade. 

Esses pontos finais eram os mais obscuros, mas Lara estava decidida a tentar todas as chances que tinha para curar Sam. 

O que ela não sabia é que o Velocino de Ouro não estava sendo buscado só por ela. E aí que começa as loucuras que todos estão acostumados ao jogar Tomb Raider. A lenda de que os soldados imortais existiam acabou sendo usado como referência a uma organização super nebulosa de mesmo nome. 

A organização no livro só usam o nome dos soldados antigos, mas não tem nenhum imortal. Já no Rise of Tomb Raider, a gente descobre que os soldados existiam mesmo.

Essa organização buscava todo tipo de relíquia e objeto que possuía qualquer referência à imortalidade. E eles chegaram à Lara por conta de Yamatai. Eles também buscavam mais informações sobre a ilha e Himiko, e já sabiam por trás das cortinas que algo aconteceu na equipe de Lara. 

Não é uma organização convidativa e eles também estão preparados para irem até o fim e achar o Velocino de Ouro

A ligação com Rise of Tomb Raider

O 2º jogo da trilogia saiu em 2015, no ano seguinte ao livro. Pelo trailer, já sabemos que Lara Croft descobriu algumas coisas sobre a possibilidade de existir um meio de ter a imortalidade. Ela segue as pistas mais confiáveis e realmente se depara com ruínas de uma civilização antiga. Mas ela não está só. 

Essas informações sobre a imortalidade são mais detalhadas no livro Os Dez Mil Imortais, pois foi justamente um dos únicos pontos que Lara ficou desconfiada e não chegou a uma conclusão total quando estava pesquisando sobre o Velocino de Ouro. Há uma relação entre as duas coisas, mas o livro não foca exatamente nessa conclusão. 

No livro, Lara quer achar o objeto físico Velocino de Ouro, para tentar entregar ele completo para Sam. Lara deixa claro nos seus pensamentos que não sabe se o Velocino realmente tem algum poder de cura, mas que mesmo um símbolo poderia ajudar o estado mental de Sam (não procurem muito sentido nesse ponto da história). 

Além da organização intitulada “Os Dez Mil Imortais”, Lara descobre que tem mais grupos procurando pelo Velocino miraculoso, e óbvio que acaba se metendo em um monte de perigo. A organização secreta é bem tática e tem conhecimentos de guerra. Fora eles, Lara se depara com uma dupla de capangas altamente fortes que representa um ator que sofre da doença de Huntington e também quer o Velocino

Mas, o mais importante do livro é a apresentação da Trindade, grupo secreto citado pela Lara ainda no trailer. No livro eles têm um trabalho super meticuloso para roubar o Velocino de Ouro (sim, durante o livro a gente descobre onde estão as partes do objeto antigo) e é a organização que mais dá trabalho para a Lara. 

No 2º jogo, a Trindade é a principal inimiga da Lara.

É por isso que ela já sabe a respeito da Trindade no trailer do jogo e os cita. 

A personalidade de Lara Croft

É interessante acompanhar o desenvolvimento da Lara, pois muita coisa do livro se passa nos pensamentos dela. Suas crises de pânico, como ela raciocina logicamente sobre os acontecimentos e como isso a previne de uma série de problemas. 

Aqui é importante saberem que a narrativa é em 3ª pessoa, mas vira e mexe partes da história são totalmente dedicados ao que Lara está pensando. A paranóia e desconfiança são presentes em Lara, principalmente, por conta de Yamatai. Ela se tornou bem mais furtiva e instintiva. 

Isso a fez desconfiar de qualquer tipo de pessoa mais estranha ou misteriosa. E, apesar de pensarmos que pode ser só paranoia dela e excesso de cuidado, na verdade Lara tem seus motivos para isso. Inclusive, algumas desconfianças se confirmaram, mostrando que Lara na verdade está mais afiada em julgar a personalidade das pessoas ao seu redor. 

Lara Croft Rise of The Tomb Raider Jacket In United States, Uk, Canada
Linda, maravilhosa, sensacional, porradeira.

Resumindo, é muito bom ver que Lara não confia em nenhum homem na história. Nenhum passa batido. Talvez por conta de tudo que ocorreu em Yamatai. Há mulheres também que estão contra Lara, mas essas pouco se aproximam socialmente dela. 

Já outras personagens femininas Lara se sente muito mais confortável. O que faz todo sentido para a protagonista do 1º jogo. Recentemente também descobrimos que o escritor do quadrinho oficial de Tomb Raider, Jackson Lanzing, tentou a todo momento mostrar que Lara nutria sentimentos românticos por Sam, e esse sentimento continua MUITO realçado no livro. 

Os perigos que ela encara e a teia que acaba se metendo, tudo foi por conta de tentar ajudar Sam. Lara a chama de melhor amiga o tempo todo no livro, e também no jogo, mas provavelmente por saber que o relacionamento entre elas não será nada mais que isso. Ao menos não quiseram explorar mais esse relacionamento também. 

Contudo, mesmo Sam sendo uma parte essencial da construção de personalidade de Lara, não é a única que a define. No livro há outras mulheres que estão ao lado de Lara e claramente é possível ver como ela confia nessas mulheres, e se sente muito mais confortável. São nuances para vermos que a nova Lara gosta realmente de mulheres, e isso quer dizer romanticamente mesmo. 

A ideia de canonizar isso e falar abertamente tem ficado mais forte, já que a trilogia acabou em 2018, mas antes disso, a pressão para manter um ícone sensual como Lara Croft, amada pelos homens, falava mais alto. 

No mais, o livro é um bom entretenimento leve. Não esperem uma narrativa toda detalhada e extremamente descritiva. O livro é curto, bem objetivo, e tem essa sensação “imediatista” dos jogos. Vale para dar uma distraída. 

无聊图 - 蛋友贴图专版 (With images)
Queria ver uma Lara assim. Arte feita por @stjepansejic
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